sábado, 29 de março de 2014

Parábola do Semeador (Mt 13, 1-23)

Freqüentemente, no nosso dia a dia nós preocupamos tanto com nossos afazeres nos esquecendo de valorar nossas tarefas. Neste sentido, passamos a buscar as coisas que nos encantam e nos apaixonam. Esquecemos que a vida e fé são ingredientes essenciais que vão muito além daquilo que buscamos objetivamente: liberdade e autonomia.

A parábola do semeador aguça nossos sentidos, nos inserindo neste dinamismo de fé e vida. Ela vem bater de frente com a dialética existencial nossa entre fé e vida tão presente na pós-modernidade.
Em virtude disso, precisamos apreender o verdadeiro sentido do semear vida e fé de forma linear, partindo de seres incompletos a caminho da completude. Semear vida e fé se faz necessário através dos nossos sentidos, para reavivar o gosto, o sabor e se degustar melhor nossa fé e vida harmoniosamente.
Partindo da parábola, percebemos no primeiro momento e durante a semeadura que o semeador deixou algumas sementes cair à beira do caminho. Vieram os pássaros e comeram, não atingindo seu objetivo que era plantar para colher frutos.

Esta semeadura nos remete a internalizar a nossa vida de fé enquanto, aqui, como seres crentes e viventes, que a semeadura é muito superficial, pois não percebemos através dos nossos sentidos onde estamos semeando e nem atingimos a semeadura. Ficamos na superficialidade da vida de fé. Semearmos sem semear. Não percebemos o que estamos fazendo. A vida e fé se separam. Não existe interação.

No segundo momento, o semeador deixou cair as sementes em terreno pedregosos com pouca terra. Esta semeadura nos remete a dar poucos frutos, pois a pedras predominam sobre a terra semeada, e logo vem o sol e as matam porque as raízes não são profundas, levando-as a morrer. Percebemos que esta semeadura mostra a pouca maturidade e consistência do ato de semear, discernindo melhor nosso ser religioso com nossas atitudes mais concretas. Conseguiremos distinguir melhor e alcançar a profundidade da palavra de fé e vida na nossa peregrinação como seres religiosos.

No terceiro momento, o semeador deixou as sementes caírem entre espinhos. Os espinhos cresceram sufocando as sementes. Este agir do semeador nos mostra claramente a nossa imaturidade da fé para crescemos, mesmo no meio dos espinhos mundanos. A nossa vida não aparece e fica só espinhosa, mostrando mais espinhos do que semente em nosso agir religioso. Os espinhos são o grande contraste da criação, pois através dos espinhos da vida percebemos mais claramente a bondade de Deus, que nos retoma, sustenta numa verdadeira apoteose de amor eterno.

No ultimo momento, o semeador atingiu a terra propriamente dita. Elas deram frutos em números diferenciados. Meditando sobre os frutos desta semeadura percebemos a capacidade que cada um de nós temos de semear a nossa vida de fé, propiciando que o mundo vislumbre, enxergue, ouça, perceba e deguste com mais alegria exercitando os sentidos.

Percebendo a nossa esperança e vontade de semear e observando o sentido da nossa semeação, levamos ao mundo mais avidez de semear o amor do reino que contagia e liberta as suas criaturas.
Um chamado à humildade e à misericórdia se desprende, portanto, do seio da parábola do semeador. Há um só campo do qual é lícito e necessário semear imediatamente: é o próprio coração.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

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