domingo, 29 de maio de 2011

VI Domingo da Páscoa - Ano A (Jo 14,15-21)

O Amor se traduz em obras, não em boas razões.


Neste VI Domingo do Tempo Pascal, Jesus nos garante sua presença por intermédio do Espírito Santo. Assim, a Palavra nos exorta que Deus não deseja o sofrimento de ninguém, mas às vezes ele é conseqüência da fidelidade ao seu projeto.

Apesar de tudo, não estamos só, porque o Espírito da verdade anima e sustenta a caminhada da comunidade. O Espírito é nosso defensor e nos revela a verdade do Pai, especialmente para os que se deixam iluminar e conduzir pelo Espírito de Deus.

O cristianismo é essencialmente uma experiência, é um encontro com o Cristo Ressuscitado e, para além de qualquer sentimentalismo tão em voga em nossos dias, é verdadeira alegria, é verdadeira beleza que tem o poder de transformar nossas vidas.

Essa experiência com o Senhor, por meio do Espírito, já a fizemos em nosso Batismo, mas é necessário aprofundá-la, vivê-la mais intensamente na liturgia.

Somente a força do ressuscitado na comunidade é capaz de incentivar seus membros a evangelizar, a testemunhar e dar motivo da esperança que existe em nós, fazendo do amor o espaço do divino na vida de seus discípulos e discípulas.

A vida do cristão foi realmente transformada no mistério pascal. Cristo é a nossa força. Ele vem ao nosso encontro pelo seu Espírito Santo. Acompanha-nos e ajuda sempre a ultrapassar todos os obstáculos. Inspira a Igreja a tomar as melhores decisões para o bem dos fiéis.

Se temos algum vínculo com alguém, se cultivamos laços, precisamos de alguma forma externar essa relação. Os que amam querem se ver, tocar-se, conviver.

Isso se dá geralmente num encontro, numa reunião, ou na festa da Eucaristia. É preciso ritos, nos diria o pequeno príncipe de Exupéry. Os ritos, ou a celebração, nada mais são do que uma relação que migrou do universo interior para o universo exterior da pessoa.

Manifestando-se ela se realiza, concretiza-se e se qualifica como algo fundamental que ocupa todos os espaços do ser e da vida humana.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo  Diocese Belo Horizonte

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Teologia na sociedade moderna ocidental


O Reino é dom, mas um dom pessoal, que suscita uma resposta do ser humano. A atuação do amor de Deus convida e capacita à aceitação da Boa Nova, que é o Reino de Deus, e à vivência da conversão, entendida como arrependimento do mal realizado e como reorientação da vida em conformidade com a vontade de Deus.

Assim, a resposta que o dom do Reino suscita consiste, com a conversão, na abertura e na entrega da pessoa, vividas na fé e na confiança: fé e confiança no Deus da vida, mesmo quando o futuro parece fechado; fé e confiança nas situações atuais que, mesmo quando muito negativas, não são a última possibilidade desse Deus, pois nele existe sempre um futuro aberto. Esta fé confiança é indispensável para todo aquele que aceita o dom do Reino de Deus.

No contexto do mundo atual, a religião em geral e a linguagem da salvação cristã em particular afiguram-se individualistas e até mesmo privativistas. Alguns fatores da cultura secular contemporânea estimulam esse privatismo. O fato de a totalidade das esferas da vida secular na sociedade ter se libertado da hegemonia de qualquer religião organizada pode ser considerado como um desenvolvimento positivo. E, dado um pluralismo de religiões, a liberdade de todas elas parece depender de sua fraca projeção pública. Conseqüentemente, a era moderna, na cultura ocidental, tem testemunhado a privatização da religião, de sua linguagem teológica e da autocompreensão das pessoas religiosas.

A questão religiosa torna-se a questão intensamente pessoal do sentido em face do sofrimento individual, do pecado e da culpa do próprio sujeito, da desorientação e, finalmente, da morte e do destino último de cada um. Uma vez que a questão religiosa seja concebida nos termos individuais e pessoais do sujeito auto–reflexivo, toda a superestrutura religiosa parece não escapar nunca ao privatismo, mesmo quando se trata de individualismo coletivo ou de grupo. Termina-se sempre com a salvação dos indivíduos. No entanto, para o sujeito pós-moderno, isso significa que a religião deixa de fazer qualquer diferença na história social e coletiva. A salvação cristã realmente nada tem a oferecer à ordem pública; como assunto de caráter privado, parece irrelevante para as decisões que estruturam a vida social e pública.

Evidentemente, os grupos cristãos têm seu próprio interreses nos negócios públicos e, como instituições, pressionam para que suas vozes façam ouvir. No entanto, ao fazê-lo, não estão necessariamente falando a linguagem da salvação que é intrínseca à fé cristã: a preocupação com o interrese próprio das instituições passa ao largo da pregação Jesuânica do reino de Deus. Com efeito, a fé em uma salvação meramente individual pode funcionar como paliativo para o sofrimento social; logicamente, mitiga a preocupação com a ordem social deste mundo.

A salvação definitiva torna-se a distração máxima do engajamento político. Uma coisa é certa: para alguém apaixonadamente interessado no projeto humano, a religião não oferece nenhuma plataforma por meio da qual essa paixão será correspondida. Uma indicação da relativa acurácia dessa crítica pós-moderna ao discurso das Igrejas é a tíbia recepção, por parte delas, das várias formas da teologia da libertação que repercutem a crítica e procuram enfrentar o problema.

A buscas de novos paradigmas na sociedade atual, para a ciência em geral e para a teologia em particular, aponta para o diálogo. Diálogo entre as religiões, como um dos caminhos para construir a paz no mundo; diálogo entre as ciências, para uma abordagem cada vez mais interdisciplinar do que se coloca diante da vida humana. Exatamente nesta perspectiva, a cristologia precisa abrir-se para a interdisciplinaridade, inclusive dentro da própria teologia.

Ela não pode ser um conhecimento gerado à parte, independente dos outros domínios do saber teológico e do comportamento cristão. Cabe, aqui, recordar que o seguimento de Jesus é condição epistemológica para a elaboração da cristologia, já que esta não é simplesmente a enumeração de curiosidades sobre a vida de Jesus, mas sim conhecimento do Cristo para melhor amá-lo. Neste sentido, a vivência concreta dos cristãos tem interrese para a cristologia, e vice versa. O mesmo acontece entre a cristologia e os outros campos do conhecimento teológico.

Na presença do Espírito de Deus, e guiados por ele, haveremos de ser capazes de elaborar uma teologia que seja fiel a Jesus e que se coloque a serviço de toda a humanidade, ajudando-a a construir um tempo novo, de justiça e fraternidade, até que Deus seja tudo em todos (1Cor 15,28).


Dom  Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

sábado, 21 de maio de 2011

V Domingo da Páscoa (Jo 14,1-12) Ano A

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida."

Neste quinto Domingo do Tempo Pascal, o Cristo ressuscitado apresenta-se como o caminho a ser seguido para chegar ao Pai. A Liturgia nos conduziu até este Domingo para dizer algo muito importante: a vida concreta do cristão realiza-se se for vivida em Cristo, com Cristo e por Cristo.

Este Domingo questiona a vida pessoal e comunitária na sua realidade e no seu modo de existir, sem esquecer que somos caminhantes e que nossa peregrinação tem um significado.

A experiência que o discípulo tem da ressurreição lhe dá uma certeza: Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Para o discípulo, não existe nenhum outro percurso existencial que possa ser feito fora dele. A força do seguimento o coloca dentro da vida do Ressuscitado.

Apesar disso, dentro da comunidade cristã aparentemente nem tudo é dom, nem tudo é bondade. Ao contrário daquela imagem idealizada pelo autor dos Atos no capítulo segundo, onde todos eram unânimes na partilha dos bens e nas orações, a passagem apresentada neste sexto capítulo nos mostra uma comunidade onde há murmurações e divisões.

Diante das fraquezas humanas, do medo da solidão e do abandono, Deus se revela como um Deus condescendente, um Deus que quer a salvação de todos os homens e oferece paz ao nosso coração irrequieto, muitas vezes tomado pelas preocupações humanas.

Deus conhece nossas limitações e se nos faz próximo, nos oferece um ambiente familiar, um lar onde possamos encontrá-lo e fazer comunhão com ele. Mas muitas vezes nos encontramos tão céticos que não conseguimos enxergar.

Os tempos difíceis que vivemos, e cuja dureza e crueza se vão fazer sentir ainda mais, exigem da comunidade cristã uma resposta de proximidade, mais atenta e mais adequada.Tenhamos fé. Tenhamos confiança.

É que na base da construção da Igreja, enquanto comunidade orante, não está a nossa ciência, nem a nossa eficiência. Está Cristo, como Pedra Angular. Aqui há sempre um lugar preparado para nós.


Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo  Diocese Belo Horizonte

terça-feira, 17 de maio de 2011

A Comunidade na vida da Igreja



A Igreja como comunidade eclesial, tanto em sua vida interna como em sua atuação na sociedade, deve dar um claro testemunho de seu empenho para superar toda forma de discriminação, no espírito do Evangelho (Deus não faz discriminação entre as pessoas) e conforme as orientações do Concílio Vaticano II: Nós não podemos invocar Deus, Pai de todos os homens, se nos recusamos a comportar-nos como irmãos para com alguns homens criados à imagem de Deus.

Olhando para o nosso mundo, alguns cristãos vêem, sobretudo seus defeitos e desvios: violência, ganância, egoísmo, busca do prazer... Mas um olhar atento reconhece sinais da presença de Deus e muitas pessoas em busca de amor, solidariedade, paz, dispostas a amar, partilhar e servir.

A missão da Igreja-como o Concílio Vaticano II a descreveu e como o Papa João Paulo II reafirmou tantas vezes, tem três aspectos fundamentais: oferecer aos fiéis uma experiência autêntica de Deus; criar uma comunidade fraterna verdadeira casa de comunhão; participar da construção de uma sociedade justa e solidária, servindo, em primeiro lugar, os pobres.

Para cumprir tal missão, a Igreja é alimentada pelas fontes da vida divina. O próprio Deus, nosso Pai, nos enviou o seu Filho Jesus, que nos oferece a sua Palavra e a Liturgia, os Sacramentos, e nos envia continuamente o Espírito Santo, que suscita em nossos corações o amor a Deus e aos irmãos.

Como Igreja somos chamados a verificar isto: se em nossas comunidades o povo de Deus pode realmente encontrar a Palavra de Cristo, a Eucaristia e os outros sacramentos e o amor, que não apenas cria a comunhão fraterna entre nós, mas nos impele a servir o próximo e a sermos sementes de solidariedade e justiça no mundo. Somos chamados a propor como fazer isso com mais vigor e de modo melhor.

Esta é também a nossa tarefa e o nosso desafio: renovar o vigor da nossa fé; aprimorar a qualidade da nossa ação, fazer brilhar com mais clareza a Palavra do Evangelho, abrir as nossas comunidades a todos os que procuram... Numa palavra: mostrar uma Igreja viva, em que todos são chamados à comunhão.

A minha espiritualidade tem que ser uma fé que inspira e sustenta a minha vida, e esta fé se expressa em oração de louvor e gratidão a Deus. A oração me abre o coração para compreender e aliviar o sofrimento dos outros. Na oração, tomo consciência de que Deus ama a todos e que não posso amar a Deus, que não vejo, se não amo o meu próximo, que está ao meu lado.

A minha vida comunitária me leva a ser parte ativa da comunidade, membro do Corpo místico de Cristo, irmão na família em que Deus é Pai. Eu procuro contribuir com a vida e o crescimento da comunidade: com minha solidariedade assumindo um serviço, ocasional ou um permanente. Com minha capacidade de consolar e confortar. Com a minha esperança e a minha alegria, todos têm algo a dar.

A minha vida solidária me leva ao serviço à sociedade, especialmente aos mais pobres e esquecidos: Participo de alguma atividade criativa ou assistencial. Procuro me interessar pelos problemas de meus vizinhos, do meu bairro ou da cidade. Participo de associações de bairro ou sindicatos. Reconheço que a minha fé não deve me afastar da política, mas tornar mais clara a minha consciência de cidadão. Sonho uma sociedade diferente. Eu luto por ela.

As Orações Eucarísticas pedem ao Pai não apenas que transforme o pão e o vinho no corpo de Cristo. Assim é a Oração Eucarística IV: Olhai, com bondade, o sacrifício que destes à vossa Igreja e concedei aos que vamos participar do mesmo pão e do mesmo cálice que, reunidos pelo Espírito Santo num só corpo, nos tornemos em Cristo um sacrifício vivo para o louvor da vossa glória.

É o que ensinavam os Santos Padres. Santo Agostinho repete, muitas vezes, citando o Apóstolo Paulo (1Cor 12, 27): Vós sois o corpo de Cristo e seus membros. E acrescenta: Alegremo-nos e agradeçamos: tornamo-nos não só cristãos, mas Cristo! Maravilhai-vos e alegrai-vos: Transfiguramo-nos em Cristo.

Urge uma Igreja de comunhão integral, orientada ao conhecimento, à escuta, à compreensão dos valores de cada um, que supere apressadas avaliações e respeite a fé de cada um. Comunhão que suscite relacionamentos de amizade e objetive a fraternidade universal tendo como modelo o amor desinteressado e radical que Jesus ensinou e viveu.


Dom Eduardo Rocha Quintella

Bispo Diocese Belo Horizonte

sábado, 14 de maio de 2011

IV Domingo da Páscoa (Jo 10,1-10) - Ano A

"Eu sou a porta das ovelhas"

Neste IV Domingo da Páscoa celebramos o Domingo do Bom Pastor e também o dia dedicado às vocações sacerdotais e religiosas, quando lemos o Evangelho do Bom Pastor.

Talvez seja momento de chamar atenção de nossas comunidades para o valor da vida. Aqueles que passam pela porta, que é Jesus, vão encontrar e experimentar a alegria de viver e de repartir a vida na base do amor, da solidariedade, da compaixão e do acolhimento. Tudo isso leva à fraternidade e nos aproxima de Deus.

Mas, o mais importante é passar pela porta, passar por Jesus, para poder compreender isso. A vida cristã se traduz em seguimento a Jesus Cristo, reconhecendo-o como o Bom Pastor, aquele que conduz suas ovelhas à vida plena.

Entra-se nesta vida passando pela porta, que é Jesus Cristo, que é também sua Cruz, através do Batismo, quando nos dispomos a viver caminhando nos caminhos do Evangelho.
Por este relato se vê que a Igreja é uma comunidade que reza. Ao rezar, escuta aquilo que o Espírito Santo lhe diz. Cada um de nós faz parte desta mesma comunidade.

É na oração que descobriremos a presença do Senhor; que receberemos a luz, para que não haja trevas na nossa vida; que receberemos as palavras do Senhor, como vindas do Pai; que escutaremos o Espírito Santo, para que nos oriente sobre o que devemos fazer; que nos decidiremos a anunciar a palavra de Deus aos outros.

A imagem do Bom-Pastor, plena de conteúdo salvífico, permite também que toda obra e ministério eclesiais sejam chamados de Pastoral porque os batizados, segundo os carismas que possuem, são vocacionados ao serviço, dando a vida pela causa Daquele que se entregou por nós. Portanto, a imagem desperta a generosidade e a disponibilidade dos cristãos para o serviço na Igreja e no Mundo, à semelhança do pastoreio de Jesus.

Celebrar e experimentar bem este domingo é deixar crescer em nós o sentido de comunidade-Igreja, povo reunido para celebrar sua fé, centralizar a nossa vida e pratica de fé no Mistério Pascal de Cristo que se realiza nos Sacramentos e plenamente na Eucaristia; Adestrar e aguçar os sentidos para colher a Vontade de Deus nos pequenos gestos, nas coisas simples do dia a dia e na pratica comum da fé e da caridade.



Dom  Eduardo Rocha Quintella
Bispo  Diocese Belo Horizonte

domingo, 8 de maio de 2011

III Domingo da Páscoa


Nós nascemos na Igreja e nutrimos nossa fé na Igreja. Não existe cristão que vive isolado, no mundo, individualizado numa religião ao seu modo. O cristão precisa da Igreja. Na Igreja ele é acolhido pelo Ressuscitado, que indica onde encontrar a vida em abundância e lhe prepara um alimento renovador das forças.
           
      É deste modo que acolhemos Jesus que vem ao encontro de seus discípulos para alimentá-los com sua Palavra e com um alimento preparado por ele próprio. Uma típica alusão aos sacramentos, especialmente à Eucaristia, destacando a presença de Jesus ressuscitado na Palavra e nos símbolos sacramentais.

Da mesma forma, o Senhor vem ao encontro dos discípulos, de todos os tempos, na vida cotidiana, manifestando-se especialmente naqueles que ouvem sua Palavra, a obedecem e lançam a rede onde possam pescar vida abundante.

Da mesma forma como Cristo apareceu a Pedro, também aparece na nossa vida. O único obstáculo seria o estarmos sem os olhos da fé. Torna-se difícil reconhecê-Lo quando estamos preocupados demais com nós mesmos, com as pequenezes da vida, com a rotina da vida quotidiana. A vida presente tem um significado muito mais profundo, nos lança à Vida Eterna. É preciso ver o extraordinário nas coisas ordinárias.

Temos que dar testemunho daquilo que experimentamos graças aos olhos da fé, que o mundo não reconhece e que só a fé revela: Cristo ressuscitou. Ele vive e nos precede junto de Deus. Há tantos cegos que não enxergam por culpa do seu egoísmo e sensualidade, soberba e avareza...

Ajudemos nossos irmãos a encontrarem os olhos da fé, que Cristo traz com a Sua Ressurreição. Vivamos com cara de ressuscitados. Neste domingo, façamos o propósito de abrir o nosso coração. Para isso devemos esvaziá-lo de nós mesmos e implorar a Deus que entre, para que o seu Espírito nos transforme em pessoas ressuscitadas.

Dom Eduardo Rocha Quintella

Bispo  Diocese Belo Horizonte

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Homenagem as Mães!




  Mãe  

gifQue ao dar a bênção da vida,
Entregou a sua...

gifQue ao lutar por seus filhos,
Esqueceu-se de si mesma...

gifQue ao desejar o sucesso deles,

Abandonou seus anseios...

gifQue ao vibrar com suas vitórias,
Esqueceu seu próprio mérito...

gifQue ao receber injustiças,

Respondeu com seu próprio amor...

gifE que, ao relembrar o passado,
Só tem um pedido...

DEUS PROTEJA MEUS FILHOS,
POR TODA A VIDA...” 

Para você mãe, mas que um merecido:

FELIZ DIA DAS MÃES!


Dom Eduardo Quintella

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Violência Generalizada





É verdade que estamos vivendo um momento muito violento na história da humanidade. Ninguém mais se sente tranqüilo. Seja no que diz respeito à segurança pessoal, local, seja no plano das relações internacionais. Análises mais simplistas até afirmam que vivemos o mais violento de todos os momentos.

Tenho minhas dúvidas, pois não vivi os tempos dos massacres efetuados pelos exércitos romanos, nem fui um dos milhões de africanos sem chances sequer de chegar com vida à América, por apodrecer nos porões dos navios negreiros. Também não fui vítima da loucura nazista num campo de concentração durante a chamada Segunda Guerra. A humanidade já viveu outros momentos de violência quase generalizada.

Mas o que me assusta é que todos os avanços, especialmente na área da comunicação, não estão permitindo aos grupos humanos se comunicarem mais. Pois se não há diálogo, não há comunicação verdadeira. E se não há comunicação, não há como encontrar formas conjuntas para diminuir a violência que nos cerca, seja no âmbito do bairro, da cidade, seja na esfera das nações.

Não se trata de escolher entre a paz e a guerra, trata-se de escolher entre a paz ou a autodestruição. A frase nunca foi tão atual para a humanidade. Trata-se de uma opção a ser feita, e a curto prazo. Precisamos ajudar nossos governantes a fazer esta escolha. E com a clareza de que a responsabilidade não é só deles.

É nossa missão ajudar no nascimento de uma nova antropologia, uma antropologia de paz! Pois desta vez não haverá uma arca de Noé que salvem alguns e que deixe perecer os demais. Temos que nos salvar todos, a comunidade de vida de humanos e não humanos.

Não quero, neste artigo, ficar repetindo análises fatalistas. Quero isto sim, partilhar opções de vida que pessoas e grupos estão fazendo, elas podem se alastrar cada vez mais, contagiar, ajudando a criar a antropologia da paz! Combater a violência ou superar? É muito mais do que uma questão de termos. Trata-se mesmo de uma opção de vida. É preciso superar a lógica.

Se para cada ação violenta tivermos que responder com uma reação também violenta, o círculo vicioso apenas irá se retroalimentar, crescendo cada vez mais. É por isso que, de antemão, está fadado ao fracasso qualquer plano por mais bem elaborado que seja. Violência não se combate, pois combater já em si é um ato violento.

Chavões como guerra contra o terror, guerra contra o seqüestro, combate ao narcotráfico, normalmente, o que mais fazem é camuflar projetos de ocupação militar e de desrespeito ao direito de auto-afirmação de grupos e povos.

Violência não se combate, se supera! E se supera com o que Gandhi chamou de força da não violência. E ainda que tenhamos dificuldade em saber como a tal onda de violência será superada, há muita coisa que está a nosso alcance. Enquanto questionamos e forçamos a mudança no macro, vamos agindo no micro.

Não sei bem ainda que alternativas temos à violência reproduzida, justificada e incentivada pela grande mídia. Se censurar é violência, também é muito violenta a forma como que somos forçados a engolir a violência da TV.

Tenho dificuldade em aceitar como consegue ter audiência um programa que mostre dez ou doze jovens trancados numa casa disputando 500 mil reais. Não seria muito mais lógico um programa que incentivasse a solidariedade?

Paz, paz... Por que tantos dizem estar curando a ferida do meu povo, quando não existe paz? A reclamação é do profeta Jeremias (Jr 6,14), que, com certeza, ajudou a um profeta, Dom Helder Câmara, a proclamar com tanta força: Justiça é o novo nome da paz. Não há como pensar em paz, em vida mais segura, sem a efetiva prática da justiça. Não há como negar que as desigualdades sociais ajudam a acentuar a violência.

Tem gente que até faz uso desta tese para dizer que os pobres são mais violentos (ou, em outras palavras, que a violência é maior entre os pobres). Não aceitamos essa distorção do discurso, mas queremos denunciar que a miséria e a fome estão entre as formas mais graves de violência. Por isso queremos exercitar a partilha, enquanto continuamos a exigir a justiça social.


Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Maio mês de Maria!


Que maravilha! Estamos no mês de Maio, um mês priveligiado. Primeiro por ser mês de Maria, a nossa mãe, e se completa com o mês das mães.

Maria foi agraciada com o anúncio do anjo de Deus, que seria a Mãe do salvador.E com o seu Sim mudou a história da humanidade: Pois nasceu aquele que deu a vida em prol de muitos: Jesus, o seu Filho Amado.

Mas essa nossa mãe querida não precisa de um dia específico para ser festejada e glorificada.Ela é a mãe do nosso Salvador.

"Te coroamos Maria! Tu és a bem-aventura, nos ensina a ser assim como tu és, uma pessoa digna, fiel e obediente!"

Que Maria nossa mãe cubra a cada um de nós com infinitas bênção e grandes alegrias.

Essa e minha prece...

Dom Eduardo Quintella. 

terça-feira, 3 de maio de 2011

A revelação como encontro


Deus, na medida em que é revelado à experiência humana por intermédio de Jesus, é pessoal. E é possível descrever a experiência dessa revelação utilizando-se analogamente um marco de comunicação intersubjetiva ou interpessoal. Não se trata de uma operação dedutiva que argumenta com base na personalidade de Deus, e sim de uma fenomelogia da experiência da revelação cristã que responde pela crença segundo a qual Deus é pessoal. A revelação cristã não se afigura como conhecimento a respeito de Deus como que de um objeto, nem mesmo como conhecimento sobre uma pessoa transcendente. A revelação cristã assume antes a forma de um encontro pessoal com um sujeito divino. Quais são alguns dos atributos da experiência quando descrita nesse paradigma?

Uma primeira característica da revelação cristã é que se trata de uma comunicação intersubjetiva. Deus é experienciado como sujeito, de tal sorte que o contato ou a percepção humana de Deus não pode ser um conhecimento acerca de Deus como que de um objeto. Na revelação cristã, Deus é experienciado como eu pessoal. Deus é experienciado como presente e interno ao próprio eu; Deus comunica seu ser à consciência do próprio ser-presente-a-si-mesmo. Deus é pessoal, e o fundamento dessa afirmação é a experiência de Deus como sujeito pessoal.

Em segundo lugar, na revelação cristã de Deus, experiencia-se Deus como transcendente. Porque Deus é Deus, a personalidade de Deus consiste em uma subjetividade infinita. Quando experienciamos Deus no âmago de nós mesmos, sabemos que não estamos simplesmente experienciando o eu, e sim uma presença ao eu que transcende infinitamente nossa própria subjetividade. Quando experienciamos Deus nos meios da história e através deles, o tema dessa experiência é que Deus transcende os meios, os eventos, as pessoas e a linguagem históricos que o evocam à consciência. Deus transcende o mundo físico, a própria natureza, o universo ou o cosmo.

A infinitude de Deus é vivenciada na experiência da própria finitude de tudo quanto existe e do qual o eu faz parte. Já se percebe aqui uma razão mais profunda pela qual o conhecimento de Deus não pode ser conhecimento objetivo, em nenhuma acepção comum, acerca de Deus. A subjetividade de Deus é uma subjetividade infinita. Não pode ser contida, limitada, fixada, determinada por uma objetividade que por definição é finita, limitada, fixada, determinada por uma objetividade que por definição é finita, limitada e circunscrita. Por sua natureza, uma experiência de Deus é experiência daquilo que transcende infinitamente a própria subjetividade e os meios históricos terrenos que fazem do ser presente de Deus um objeto da consciência.

Em terceiro lugar, o encontro revelacional, portanto, envolve o tema da gratuidade e a fé. Todavia, a partir das coordenadas da comunicação interpessoal, a razão mais profunda desse da graça torna-se manifesta. A autocomunicação de Deus é função de sua liberdade interior. Deus não é compelido a comunicar seu eu interior. A revelação tem sempre o caráter de evento; manifesta-se de forma imprevista. O correlato desse caráter de evento reside na liberdade de Deus. Sempre que a revelação ocorre ou é experienciada como encontro interpessoal com Deus, apropria qualidade temática da experiência é que ela se realiza a partir da livre iniciativa de Deus.

A relevância dessa caracterização da experiência revelacional de Deus reside sobretudo em sua fidelidade à própria experiência. Não corresponde, em certa medida, aos que os cristãos dão a entender quando aludem ao processo revelacional de Deus? Se essa descrição se coaduna efetivamente com a experiência, também encerra alguma relevância adicional. Explica por que a fé cristã não é conhecimento na acepção comum do termo, e ao mesmo tempo preserva a dimensão cognitiva da fé da revelação. A revelação não é sabedoria filosófica, nem conhecimento científico, nem alguma forma de conhecimento impessoal e objetivo, nem conhecimento das coisas ou dos eventos históricos, nem conhecimento histórico, nem conhecimento propositivo acerca de Deus, nem conhecimento produzido por idéias inatas, nem verdade apriorística latente na pessoa humana como tal.

Todas essas outras espécies de conhecimento têm algo a ver com a revelação, que, porém, não é redutível a nenhuma dessas formas de conhecimento humano. Pelo contrário, a revelação é sui generis, representa um conhecimento de espécie própria, que em última análise difere de qualquer outra modalidade de conhecimento. Situamo-lo no marco analógico do conhecimento pessoal, intersubjetivo. Entretanto, como resultado da autocomunicação de Deus, transcende o próprio marco analógico.

Por ser uma forma sui generis de conhecimento, a revelação não compete com nenhuma outra forma de conhecimento, e nenhum outro dado do conhecimento humano com ela compete. Visto que a revelação não é de forma alguma conhecimento objetivo, é simplesmente equivocado, por um erro a priori nas categorias, encarar o conhecimento cientifico ou qualquer outra modalidade de conhecimento deste mundo como ameaça à revelação. Na obstante, em que pese essa diferença qualitativa das demais formas de conhecimento, a revelação é, contudo cognitiva. Como consciência divina, a revelação é uma forma de conhecimento de Deus.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Eucaristia e vida eucarística



A Liturgia é o ápice para qual tende a ação da igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde emana toda a sua força. Ela é, portanto, o lugar privilegiado da catequese do povo de Deus. A catequese está intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e sacramental, pois é nos sacramentos, e, sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens. (CIC 1074)

Na liturgia da nova aliança, toda ação litúrgica, especialmente a celebração da Eucaristia e dos sacramentos, é um encontro entre Cristo e a Igreja. A assembléia litúrgica tira sua unidade da comunhão do Espírito Santo, que congrega os filhos de Deus no único corpo de Cristo. Ela ultrapassa as afinidades humanas, raciais, culturais e sociais. (CIC 1097)

A Eucaristia impele-nos à ação; há atitudes concretas do nosso agir sugeridas pela Eucaristia. Antes de mais, a experiência da vida como comunhão de amor, com Deus e com os irmãos. Da Eucaristia partimos decididos a vencer a solidão e os egoísmos, e a confiar, partilhando. Como diz a Escritura, essa comunhão é, antes de mais, com Deus Pai e com o seu filho Jesus Cristo.

A experiência de fé ganha densidade na comunhão trinitária e a própria vida torna-se desafio de radicalidade e de profundidade progressivas. Na celebração da morte do Senhor, que se resolve na ressurreição, nós descobrimos a fecundidade do sofrimento e começamos a viver a nossa própria morte.

A sociedade transformar-se-ia positivamente se descobrisse esta fecundidade misteriosa do sofrimento, momento de oferta da própria vida, o que não nos isenta de procurar resolver ou mitigar o sofrimento dos irmãos. Sobretudo a Eucaristia reconduz à sua densidade de experiência presente a esperança na vida eterna.

A Igreja celebra sempre a Eucaristia “até que Ele venha”. A consciência de uma unidade entre o presente histórico e o futuro escatológico, podemos aprendê-la na Eucaristia. Torna-se tão pesado viver a nossa vida como estivéssemos prisioneiros do tempo e da história, sem a alegria de pressentir que agora estamos já a construir o futuro definitivo que, em Cristo, pode ser radioso e plenamente feliz! Os cristãos constituem, ainda hoje, uma parte significativa da nossa sociedade.

Se eles não abdicarem de estar na vida com os mesmos valores e atitudes com que celebram a Eucaristia, a sua influência na mutação cultural pode ser decisiva. Dada a matriz cristã da cultura da nossa sociedade, nem serão previsíveis choques culturais entre os valores em que se inspira o todo da sociedade e essa coerência dos cristãos com uma visão da história que brota do mistério pascal.

Na Eucaristia descobre-se a plenitude desses valores e a fonte da sua harmonia, que é Cristo ressuscitado, Senhor da história. E esta coerência dos cristãos é a sua missão no meio da cidade dos homens. Em cada Eucaristia eles são enviados para o mundo para continuarem a lutar por essa nova inspiração da História.




Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

Bioética e a dignidade da vida



O discernimento moral é particularmente significativo e iluminador em situações concretas em que uma pessoa ou grupo tem séria dúvida ou perplexidade a respeito da opção moralmente correta a tomar. É ai que o discernimento criterioso e prudente torna-se absolutamente indispensável.

De acordo com a visão da santidade da vida, muito influenciadora da cultura ocidental, qualquer interferência no processo reprodutivo é proibida e imoral. Argumento que tais posições são inconsistentes e que as pessoas têm o direito de decidir. Estamos presos a antigos tabus e lógicas que devem ser descartados.

Uma pessoa é, primeiramente, um indivíduo que se distingue dos demais seres naturais por uma possibilidade inédita, a racionalidade. Pessoa é, então, o indivíduo racional. Não vejo no avanço da genética um risco de dominação do homem pelo homem, violando sua autonomia; pelo contrário, pode dar ao homem melhores condições de utilizar esse conhecimento, respeitando a individualidade.

Somente se conseguirmos programar nosso organismo biológico poderemos resistir ao desaparecimento. Por isso, é justo intervir, não devemos ter medo. Espero que os homens façam melhor, ou mais bem feito que Deus. Porque não acredito que Deus tenha feito somente coisas boas. Existe tanto sofrimento no mundo, tantas pessoas que nascem com doenças terríveis!

A Bioética trata desde a concepção humana, clonagem, pesquisas com as células-tronco até as questões sobre a morte (assunto que está sendo debatido mais do que nunca). Quando se deve prolongar a vida, mesmo sem nenhuma esperança de cura e aumentando a dor do paciente? Há tanto estudo e debate que se exige um pouco de nossa atenção e conhecimento. Estamos vivendo o século da biotecnologia.

Sem Ética, portanto, o ser humano corre o perigo de ser apenas mais um animal. Nenhuma civilização pode funcionar sem leis. A Bioética quer ser a luz que guie as nossas decisões nas áreas que tocam a qualidade da vida. É um exame crítico das dimensões morais ao tomar decisões sobre assuntos relacionados com os cuidados da saúde, e em contextos envolvendo as ciências biológicas (tecnológicas). Há uma grande sensibilidade hoje em relação à vida e à saúde humana. Mais e mais nós acabamos nos inconformando com situações em que onde deveria existir saúde, existe doença e onde existe morte, deveria existir vida.

Então, no fundo, a bioética clama por dignidade humana, por respeito à pessoa humana, o ser humano. Eu definiria a bioética como um grito, um brado forte pela dignidade humana e por mais qualidade de vida, desde o nível individual, pessoal ou até ao nível social, coletivo em todos os âmbitos da vida. Este é o grande movimento de ser uma área do conhecimento humano que frente ao extraordinário progresso, em curso, nas ciências da vida e da saúde transforma todas estas conquistas em possibilidades de uma vida mais saudável, mais digna e mais feliz.

Assim como, por exemplo, a encíclica Evangelho da Vida saúda o nascimento da Bioética como sendo um sinal de esperança na contemporaneidade que vem nos convidar a envidar esforços para que a humanidade dialogue, reflita e cheque a algum consenso mínimo em relação a algumas questões cruciais relacionadas à vida humana, desde antes do nascer até o morrer.

Desde que o ser humano é ser humano existe a bioética, só que ela vai atualizando, ela vai contemporizando, ela vai nos desafiando, vai tomando as formas e os desafios do tempo atual, vai se formatando na nossa cultura. Claro, esta é uma observação muito sábia, no sentido de dizer que o que é novo, pois temos tantos modismos. Na verdade, o que é novo são essas situações novas que a tecnociência, a ciência está trazendo e que vem interferindo decisivamente na vida do ser humano.

Mas desde que o ser humano é ser humano se pergunta sobre o sentido da sua existência, a forma como se relacionar com o seu semelhante e como interferir na natureza humana. Nós temos aí, eu diria assim, uma questão ética. Claro, que com o advento da ciência, a partir especificamente do século 15 e 16, do pensamento científico, que acabou ficando um pouco na penumbra e que hoje vem sendo colocado novamente em evidência, tendo uma visibilidade muito importante, porque a vida no planeta terra está em jogo, como intuiu muito bem Rensselaer Van Potter, esse oncologista norte-americano que no ínicio da década de 70, mais precisamente em 1970-1971, escreveu o primeiro livro de bioética: Bioética, a ponte para o futuro.

Aí ele chamou a bioética de ciência da sobrevivência. Ele pensou a vida, eu diria assim, essa ciência de nos garantir o futuro, onde precisamos nós, cientistas e humanistas, conversarmos sobre essas questões. Não podemos ficar isolados, pois a vida é algo muito importante para ser deixada somente nas mãos dos cientistas. Nós todos temos interesses e temos valores em jogo e precisamos cuidar disso. A maior efervescência em termos de progresso científico no campo das ciências da vida é a chamada Era Genômica. Nós estamos em plena Era Genômica.


Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

domingo, 1 de maio de 2011

II Domingo da Páscoa, Ano A – Mateus – 01/05/2011 (Jo 20, 19-31)


A liturgia desse domingo, vivendo ainda a alegria pascal, apresenta a nova comunidade (a Igreja), que nasce da cruz e Ressurreição com a missão de revelar aos homens a Vida Nova que brota da Ressurreição. Uma comunidade que dá testemunho, provocando admiração e simpatia do povo e atraindo novos membros.

O Tempo Pascal caracteriza-se como tempo, no qual o Espírito Santo conduz sua Igreja ao testemunho concreto da fé, através da partilha fraterna, da alegria e da paz. A celebração deste Domingo demonstra que a fé não é algo teórico ou intimista, pois esta se manifesta concretamente em nossas comunidades e na vida dos discípulos e discípulas de Jesus.

Talvez esta seja a mensagem central do Evangelho deste segundo domingo de Páscoa. O Jesus Ressuscitado não é encontrado na paz das igrejas. Devemos sair ao fundo deste mundo. Devemos colocar as mãos nas feridas da história. Devemos nos aproximar dos que lhes tocou a pior parte, aos pobres, aos marginalizados de todo tipo, aos que sofrem por qualquer razão.

Aí, tocando a cruz, que podemos sentir, é como nos encontramos com o Senhor Ressuscitado, com o Jesus ao qual o Pai devolveu a vida. Indo aos lugares mais escuros da história, onde o pecado, a dor e a morte estão demasiados presentes, onde não cabe a esperança, é como encontraremos ao que é a fonte de toda esperança, ao que nos faz olhar para além da morte, com uma perspectiva que não é a dos homens senão a perspectiva de Deus.

Sentindo todos os homens e mulheres como irmãos e irmãs no coração, seremos capazes de recriar aquela comunidade primeira na qual, todos viviam unidos e tinham tudo em comum. As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo.

E aí precisamente onde experimentamos a Jesus Ressuscitado e escutamos uma vez mais sua voz, que nos enche de esperança: A paz esteja convosco.
 
Dom  Eduardo Rocha Quintella
Bispo  Diocese Belo Horizonte

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