sexta-feira, 7 de março de 2014

Dom Eduardo R. Quintella – Bispo Diocesano de Belo Horizonte – Exorta Como devem viver os Cristãos

07/03/2014

Portal na Internet: www.domquintella.com.br

Email: domeduardorochaquintella@yahoo.com.br

Viver na Espera do Senhor.

Ao comentar a parábola das dez virgens, não queremos insistir tanto no que diferencia às moças (cinco são prudentes e cinco insensatas), mas no que lhes une: todas estão saindo ao encontro do esposo. Isto permite-nos refletir sobre um aspecto fundamental da vida cristã, sua orientação escatológica; ou seja, a espera do regresso do Senhor e nosso encontro com ele. Nos ajuda a responder à eterna e inquietante pergunta: Quem somos e aonde vamos?
A Escritura diz que nesta vida somos peregrinos forasteiros, somos párocos, pois paróikos é a palavra do Novo Testamento que se traduz como peregrino e forasteiro (Cf. 1 Pedro 2,11), como Paroikía (paróquia) é a tradução de peregrinação ou exílio (Cf. 1 Pedro 1, 17). O sentido é claro: em grego pará é um advérbio e significa junto: oikía é um substantivo e significa casa; portanto: viver junto, perto, não dentro, mas de lado. Por este motivo o termo passa a indicar depois a quem vive em um lugar durante um tempo, o homem de passagem, ou o exilado; paroikía indica, portanto, uma casa provisória.
A vida dos cristãos é uma vida de peregrinos e forasteiros, pois estão no mundo, mas não são do mundo (Cf. João 17, 11. 16); pois sua verdadeira pátria está nos céus, de onde esperam que venha Jesus Cristo o Salvador (Cf. Filipenses 3, 20); pois aqui não têm uma morada estável, mas estão a caminho para a futura (Cf. Hebreus 13, 14). Toda a Igreja não é mais que uma grande paróquia.
A Carta a Diogneto, do século II, define os cristãos como homens que habitam em suas próprias pátrias, mas como estrangeiros, participam em tudo como os cidadãos, mas o suportam tudo como estrangeiros; toda terra estranha lhes é pátria, e toda pátria lhes é estranha. Trata-se, contudo, de uma maneira especial de ser estrangeiro. Alguns pensadores da época também definiam ao homem estrangeiro no mundo por natureza. Mas a diferença é enorme. Estes consideravam o mundo como obra do mal e, por isso, não recomendavam o compromisso com ele que se expressa no matrimônio, no trabalho, no Estado. No cristão não há nada de tudo isto. Os cristãos, diz a Carta, casam-se como todos e geram filhos, participam em tudo. Sua maneira de ser estrangeiro é escatológica, não ontológica, ou seja, o cristão sente-se estrangeiro por vocação, não por natureza; enquanto que está destinado a outro mundo, e não enquanto que procede de outro mundo. O sentimento cristão de reconhecer-se estrangeiro se fundamenta na ressurreição de Cristo: Se haveis ressuscitado com Cristo, buscai as coisas do alto (Colossenses 3,1). Por isso, não rejeita a criação nem sua bondade fundamental.
Nos últimos tempos, o redescobrimento do papel e do compromisso dos cristãos no mundo contribuiu a atenuar o sentido escatológico, até o ponto de que já quase não se fala dos novíssimos: morte, juízo, inferno e paraíso. Mas quando a espera no regresso do Senhor é genuinamente bíblica, não distrai do compromisso pelos irmãos, mas o purifica, ensina a julgar com sabedoria os bens da terra, orientando-nos sempre para os bens do céu.
São Paulo, depois de ter recordado aos cristãos que o tempo é breve, concluía dizendo: Assim que, enquanto tenhamos oportunidade, façamos o bem a todos, mas especialmente a nossos irmãos na fé (Gálatas 6, 10).
Viver em espera do regresso do Senhor não significa nem sequer desejar morrer logo. Buscar as coisas do alto significa mais orientar a existência de face ao encontro com o Senhor, fazer deste acontecimento o pólo de atração, o farol da vida. O quando é secundário e há que deixá-lo na vontade de Deus.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

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