domingo, 30 de março de 2014

Desafio do Ecumenismo Religioso

Dom Eduardo R. Quintella
Portal na Internet: www.domquintella.com.br
e-mail: domeduardorochaquintella@hotmail.com.br

Um dos fundamentais desafios enfrentados hoje pelas religiões diz respeito ao diálogo de obras, de mútua colaboração em favor de um mundo melhor e mais justo. Um diálogo de responsabilidade comum por todos os povos da terra, mas que garanta a singularidade das religiões. Um diálogo, portanto, animado pelo equilíbrio entre a consciência da diversidade e o imperativo da responsabilidade. A alteridade irredutível de cada tradição religiosa deverá estar sempre garantida no processo dialogal, e isto significa ser capaz de perceber o outro como "mysterium tremendum", que jamais pode ser completado ou reduzido em seu significado único. Ao mesmo tempo, percebê-lo como "mysterium fascinans", ou seja, um mistério que igualmente convida ao encontro e que se abre ao aprendizado da diferença. O encontro e cooperação entre as religiões constitui hoje um requisito essencial para a paz entre as nações: "Não haverá paz entre as religiões sem um diálogo entre as religiões." O ecumenismo planetário constitui uma ampliação da "ecumene abraâmica", na medida em que busca envolver todas as religiões da terra em favor de uma comum responsabilidade eco-humana.
Os passos para o diálogo envolvem não somente uma responsabilidade prática, mas igualmente uma abertura aos enriquecimentos múltiplos que o encontro desarmado pode e deve favorecer. No caso específico do cristianismo emergem desafios muito importantes. Com respeito ao diálogo com o judaísmo, exige-se, em primeiro lugar, a superação de todo e qualquer sentimento de hostilidade que caracterizou o passado das relações entre as duas tradições. Impõe-se o reconhecimento dos profundos laços de dependência que vinculam o cristianismo ao judaísmo; igualmente a abertura e disponibilidade para "escutar o testemunho dos judeus, a aprender com a sua experiência de vida e de fé e, portanto, colher novos aspectos da tradição bíblica”.Com respeito ao diálogo com o islã, impõe-se a necessidade de um maior respeito e abertura ao valor do Corão, enquanto Palavra de Deus diferente e autêntica, bem como o reconhecimento de Maomé como profeta verdadeiro. A teologia cristã da criação sairá igualmente enriquecida quando animada pelo contato com o Corão, que favorece perceber com grande riqueza o "admirável sentido da beleza e estabilidade do mundo criado" testemunhado neste Livro. O budismo, por sua vez, favorece aos cristãos grandes inspirações éticas e religiosas, tão bem sinalizadas por João Paulo II em ocasiões diversas: o caminho de renovação do indivíduo, o estilo de vida fundado na compaixão, bondade e desejo de paz, prosperidade e harmonia para com todos os seres viventes, o profundo respeito pela vida e a natureza, a renegação de si, a busca da verdade e o incessante esforço de transcendência.

Durante a jornada mundial de oração pela paz, realizada em 1986 na cidade de Assis, João Paulo II fez menção à "viagem fraterna" que os fiéis das diversas tradições religiosas realizam em comum em direção à meta transcendente de Deus. Somos todos nesta história convidados por Deus mesmo a entrar no "mistério de sua paciência" e a buscarmos juntos os valores da verdade transcendente. Só Deus conhece a forma como esta etapa histórica será coroada no fim dos tempos. Nenhuma religião pode pretender esgotar toda a verdade, pois só Deus é senhor da verdade plena. Estamos todos sob o mistério do inescrutável da transcendência amorosa de Deus. Somos todos "homines viatores", sempre a caminho. A Igreja cristã é igualmente peregrina: "Ecclesia peregrinans". E não estamos sozinhos nesta travessia, mas acompanhados, em relação de testemunho e aprendizado, pelos fiéis de todas as tradições religiosas da humanidade. No processo de comunicação permanente com os outros, crescemos e ajudamos a crescer. Como bem lembrou H. Küng, ao final de sua teologia a caminho, a história permanece aberta ao futuro:
Só uma coisa é certa a respeito do futuro: no final da vida humana e do curso do mundo, já não existirá Budismo ou Hinduísmo, tampouco o Islamismo e o judaísmo, nem o Cristianismo. No final não existirá nenhuma religião, mas se encontrará o próprio Inefável ao qual se dirigem todas as religiões. E só então, quando o imperfeito cede ao perfeito, os cristãos o conhecerão do mesmo modo como são conhecidos: a verdade face a face. No final não haverá mais profetas ou iluminados que dividam as religiões: nem Maomé nem Buda nem o próprio Jesus Cristo em quem os cristãos crêem, serão causa de divisão.

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