segunda-feira, 31 de março de 2014

A chama da Oração na Bíblia

Falar a Deus em colóquio amigável, descoberto e livre, em atitude de abertura no olhar, no escutar e no esperar, tem a ver com o ser de Deus e com a pergunta sobre Deus; e é a situação ideal para captar o mais possível a realidade de Deus, pois no rezar se exprime o constitutivo da experiência da fé – qualquer que ela seja. Mas também tem a ver com a essência do ser humano e com as suas relações fundadoras. Ao rezar, o orante não só pressupõe o ser de Deus mas também exprime a idéia de si próprio: entende-se não como um ser fechado na imanência, dentro dos limites do humano, mas como aberto para uma dimensão transcendente. O rezar a Deus é, para além de muitas outras coisas, uma forma de ser humano; é uma forma de o ser humano se experimentar, se perceber genuinamente e se exprimir linguisticamente.

Na Bíblia a oração, além de ser a forma mais densa de captar o ser de Deus, ao vê-lo revelado definitivamente na total comunhão com o ser humano, na pessoa de Jesus, foi a maneira excelente de o ser humano denunciar a sua tendência a superar-se, na procura da transcendência. Viu-se como um “ ser para o divino” , um ser que se realiza na relação com Deus. Porque a fé do povo bíblico acredita que Deus por própria iniciativa dirigiu aos humanos a sua palavra e lhes revelou o seu ser e a sua vontade, está convicta de que o ser humano pode falar com Deus. Porque entendia que Deus interpelava o povo criticamente, amigavelmente, salvíficamente, aprofundou a certeza de que Deus é alguém que se pode ouvir e invocar. No caminho da história dos homens com Deus, a oração bíblica constituiu, pois, um aspecto da captação e da correlativa revelação da imagem de Deus, mas também uma expressão da essência do ser humano.

Para a fé bíblica, a oração é uma realidade tão espontânia que nem se discutia o seu sentido e a sua motivação. Surge como algo óbvio, insistindo-se sem cessar em não relaxar essa naturalidade. Esta naturalidade compreende-se bem se temos em conta que o povo de Israel vivia num ambiente cultural e religioso, o do antigo próximo oriente, em que a oração era um ingridiente normal da vida humana. Não se pensa que em Israel ela foi uma realidade inédita e original, As muitas formas de oração dos povos de onde Israel era originário e no cruzamento dos quais vivia, isto é, os sumérios, acádicos, babilônios, assírios. hititas, cananeus e egípcios, estão abundantemente documentados. O que se pode dizer é que a oração do povo bíblico seguiu um percurso próprio que culminou na de Jesus, que estabeleceu o mais perfeito traço de união da humanidade com Deus.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte 
E-mail: domeduardorochaquintella@hotmail.com 
Portal na Internet: www.domquintella.com.br
Não basta pedir a Deus que realize curas, é preciso pedir milagres
31/03/2014

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bipo Diocese Belo Horizonte.
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E-mail: domeduardorochaquintella@hotmail.com

Venha Senhor sobre nós a vossa graça da mesma forma que em vós nós esperamos (Sl 32,22). Hoje Jesus vem nos falar dos sinais que acompanharão aquele que crê, todos dizemos que cremos em Deus, mas onde estão os milagres? algum de nós já ressuscitou um morto, curou doentes, mandou aleijados levantarem? eu já vi muitos milagres, Deus já me usou para muitos, mas o poder que está sobre mim não é meu.

Eu tenho certeza que esse poder é de Deus e que todos os padres também receberam. Todos que são batizados também têm essa graça de poder fazer isso. Agora se você não acredita é por isso que nada acontece. Não devemos pensar que aquilo que Deus faz aqui extraordinário, isso deveria ser normal porque é um sinal, é prova que nós cremos num Deus que tudo faz.

Hoje é o dia de implorar o sangue de Cristo sobre todas as situações da nossa vida e nos fortalecer. A graça de Deus só vem sobre nós se nós Nele esperamos. Eu declaro que esta noite será uma noite de muitos milagres. Não basta pedir a Deus que realize curas, isso para Deus é pouco, é preciso pedir milagres.

Gente, para nós é preciso acreditar, não somente pela nossa salvação, mas também por aqueles que nós amamos. Deus pode fazer muito, basta acreditarmos e nos colocar a caminho.

Hoje é o dia de clamar ao Sangue de Jesus que nos cure, que nos faça ter fé, que nos faça novo, é o dia de se entregar a Deus e confiar no seu amor.

domingo, 30 de março de 2014

Desafio do Ecumenismo Religioso

Dom Eduardo R. Quintella
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Um dos fundamentais desafios enfrentados hoje pelas religiões diz respeito ao diálogo de obras, de mútua colaboração em favor de um mundo melhor e mais justo. Um diálogo de responsabilidade comum por todos os povos da terra, mas que garanta a singularidade das religiões. Um diálogo, portanto, animado pelo equilíbrio entre a consciência da diversidade e o imperativo da responsabilidade. A alteridade irredutível de cada tradição religiosa deverá estar sempre garantida no processo dialogal, e isto significa ser capaz de perceber o outro como "mysterium tremendum", que jamais pode ser completado ou reduzido em seu significado único. Ao mesmo tempo, percebê-lo como "mysterium fascinans", ou seja, um mistério que igualmente convida ao encontro e que se abre ao aprendizado da diferença. O encontro e cooperação entre as religiões constitui hoje um requisito essencial para a paz entre as nações: "Não haverá paz entre as religiões sem um diálogo entre as religiões." O ecumenismo planetário constitui uma ampliação da "ecumene abraâmica", na medida em que busca envolver todas as religiões da terra em favor de uma comum responsabilidade eco-humana.
Os passos para o diálogo envolvem não somente uma responsabilidade prática, mas igualmente uma abertura aos enriquecimentos múltiplos que o encontro desarmado pode e deve favorecer. No caso específico do cristianismo emergem desafios muito importantes. Com respeito ao diálogo com o judaísmo, exige-se, em primeiro lugar, a superação de todo e qualquer sentimento de hostilidade que caracterizou o passado das relações entre as duas tradições. Impõe-se o reconhecimento dos profundos laços de dependência que vinculam o cristianismo ao judaísmo; igualmente a abertura e disponibilidade para "escutar o testemunho dos judeus, a aprender com a sua experiência de vida e de fé e, portanto, colher novos aspectos da tradição bíblica”.Com respeito ao diálogo com o islã, impõe-se a necessidade de um maior respeito e abertura ao valor do Corão, enquanto Palavra de Deus diferente e autêntica, bem como o reconhecimento de Maomé como profeta verdadeiro. A teologia cristã da criação sairá igualmente enriquecida quando animada pelo contato com o Corão, que favorece perceber com grande riqueza o "admirável sentido da beleza e estabilidade do mundo criado" testemunhado neste Livro. O budismo, por sua vez, favorece aos cristãos grandes inspirações éticas e religiosas, tão bem sinalizadas por João Paulo II em ocasiões diversas: o caminho de renovação do indivíduo, o estilo de vida fundado na compaixão, bondade e desejo de paz, prosperidade e harmonia para com todos os seres viventes, o profundo respeito pela vida e a natureza, a renegação de si, a busca da verdade e o incessante esforço de transcendência.

Durante a jornada mundial de oração pela paz, realizada em 1986 na cidade de Assis, João Paulo II fez menção à "viagem fraterna" que os fiéis das diversas tradições religiosas realizam em comum em direção à meta transcendente de Deus. Somos todos nesta história convidados por Deus mesmo a entrar no "mistério de sua paciência" e a buscarmos juntos os valores da verdade transcendente. Só Deus conhece a forma como esta etapa histórica será coroada no fim dos tempos. Nenhuma religião pode pretender esgotar toda a verdade, pois só Deus é senhor da verdade plena. Estamos todos sob o mistério do inescrutável da transcendência amorosa de Deus. Somos todos "homines viatores", sempre a caminho. A Igreja cristã é igualmente peregrina: "Ecclesia peregrinans". E não estamos sozinhos nesta travessia, mas acompanhados, em relação de testemunho e aprendizado, pelos fiéis de todas as tradições religiosas da humanidade. No processo de comunicação permanente com os outros, crescemos e ajudamos a crescer. Como bem lembrou H. Küng, ao final de sua teologia a caminho, a história permanece aberta ao futuro:
Só uma coisa é certa a respeito do futuro: no final da vida humana e do curso do mundo, já não existirá Budismo ou Hinduísmo, tampouco o Islamismo e o judaísmo, nem o Cristianismo. No final não existirá nenhuma religião, mas se encontrará o próprio Inefável ao qual se dirigem todas as religiões. E só então, quando o imperfeito cede ao perfeito, os cristãos o conhecerão do mesmo modo como são conhecidos: a verdade face a face. No final não haverá mais profetas ou iluminados que dividam as religiões: nem Maomé nem Buda nem o próprio Jesus Cristo em quem os cristãos crêem, serão causa de divisão.

sábado, 29 de março de 2014

São Francisco de Assis

Disse um dia, Francisco ao irmão Vento
Fala-me de Deus por onde passas.
E ele sacudindo as árvores por um momento,
Espalhou flores por caminhos e praças. 
Disse um dia, Francisco à irmã Água:
Fala-me de Deus com tua liquidez.
Disse ela: Criei o mar, lá tudo deságua
Faço a semente germinar, apesar da aridez.
Disse um dia, Francisco ao Fogo irmão:
Fala-me de Deus com tua força misteriosa,
Estou no âmago da terra, em cada coração,
Movo o universo. Faço desabrochar a rosa.
Disse um dia, Francisco à Mãe Terra:
Fala-me de Deus com tuas flores e frutos.
A todos acolho e sustento, da ave à fera,
Das criaturas mais belas, aos seres mais brutos.
Disse um dia, Francisco à irmã Lua:
Fala-me de Deus com teu clarão.
Disse ela: ilumino as trevas, o abismo, a rua.
Incendeio de luz o breu da escuridão.
Disse Francisco: fala-me de Deus sol nascente
Com tantos raios de luz e calor.
Tu que acordas de manhã, e dormes no poente.
E em bilhões de anos não perdeste o fulgor.
Às estrelas, disse um dia Francisco:
Falem-me de Deus com vosso manto de ouro.
Elas responderam: somos menor que um cisco.
Diante de Francisco com seu tesouro.
Francisco ficou quieto, pasmo, mudo.
Disse a si mesmo: Francisco, fala-me de Deus.
A voz não veio... Sussurrou... Meu Deus e meu tudo.
Faça-me o menor de todos os filhos teus.
Chorando e sorrindo disse à irmã morte:
Bem-vinda, bem-vinda sejas entre nós.
Aqui vieste de passagem ou lançar a sorte...?
Não! -- Vim buscar Francisco. Deus quer ouvir sua voz.
Francisco abraçou. Disse à irmã morte:
Fala-me de Deus, tu que és o grande tribunal.
Sou justa e fiel diante do fraco e do forte.
Levo a todos o recado da sentença final.
Finalmente, disse ele: Fala-me de Deus
Cântico das Criaturas:
Criaturas que a Deus sempre assistis.
Ele respondeu: Glória a Deus nas alturas
Assim disseram os anjos — Amém.
Disse, Francisco de Assis.
Os Sete Sacramentos da Igreja

“Os sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, por meio dos quais nos é dispensada a vida divina”. Os ritos visíveis sob os quais os sacramentos são celebrados significam e realizam as graças próprias de cada sacramento. Produzem fruto naquele que os recebem com as disposições exigidas. 
A Igreja celebra os sacramentos como comunidade sacerdotal estruturada pelo sacerdócio batismal e pelos ministros ordenados.
O Espírito Santo prepara para a recepção dos sacramentos por meio da Palavra de Deus e da fé que acolhe a Palavra nos corações bem dispostos. Então, os sacramentos fortalecem e exprimem a fé.
O fruto da vida sacramental é ao mesmo tempo pessoal e eclesial. Por um lado, este fruto é para cada fiel uma vida para Deus em Cristo Jesus; por outro, é a para a Igreja crescimento na caridade e em sua missão de testemunho."
Sacramento são gestos de Deus em nossa vida. Realizam aquilo que expressam simbolicamente. Os sacramentos são, por conseguinte:

Sinais sagrados, porque exprimem uma realidade sagrada, espiritual; 
Sinais eficazes, porque, além de simbolizarem um certo efeito, produzem-no realmente; 
Sinais da graça, porque transmitem dons diversos da graça divina; 
Sinais da fé, não somente porque supõem a fé em quem os recebe, mas porque nutrem, robustecem e exprimem a sua fé; 
Sinais da Igreja, porque foram confiados à Igreja, são celebrados na Igreja e em nome da Igreja, exprimem a vida da igreja, edificam a Igreja, tornam-se uma profissão de fé na Igreja. 
Sacramento Situação da vida Tipo O que acontece
Batismo
Nascemos para fé Iniciação Cristã Começamos a fazer parte da grande família que é a Igreja
Confirmação
Crescemos como Cristãos Iniciação Cristã Assumimos com mais maturidade o compromisso na Igreja
Eucaristia
Precisamos de alimentos para fé e a vida em comunidade Iniciação Cristã Recebemos o corpo de Cristo unidos a todos os irmãos
Penitência
Erramos e nos arrependemos Cura Recebemos o perdão de Deus na comunidade
Unção dos Enfermos
Somos atingidos pela doença Cura A graça de Deus e o caminho da Igreja ajudam o doente que sofre
Ordem
Alguém sente vocação de serviço total a Deus e ao irmão Serviço O Cristão se torna sacerdote a serviço da comunidade
Matrimônio
Homem e mulher se amam e querem se casar Serviço Os dois se comprometem a viver seu amor como cristãos de verdade
OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ
Pelos sacramentos da iniciação cristã - Batismo, Confirmação e Eucaristia - são lançados os fundamentos de toda vida cristã. A participação na natureza divina, que os homens recebem como dom mediante a graça de Cristo, apresenta certa analogia com a origem, o desenvolvimento e a sustentação da vida natural. O fiéis, de fato, renascidos no Batismo, são fortalecidos pelo sacramento da Confirmação e, depois, nutridos com o alimento da vida eterna na Eucaristia. Assim, por efeito destes sacramentos da iniciação cristã, estão em condições de saborear cada vez mais os tesouros da vida divina e de progredir até alcançar a perfeição da caridade.

OS SACRAMENTOS DA CURA 
Pelos sacramentos da iniciação cristã, o homem recebe a vida nova de Cristo. Ora, esta vida nós a trazemos "em vasos de argila" (2Cor 4, 7). Agora, ela ainda se encontra "escondida com Cristo em Deus" (Cl 3, 3). Estamos ainda em "nossa morada terrestre" (cf. 2Cor 5, 1), sujeitos ao sofrimento, à doença e à morte. Esta nova vida de filhos de Deus pode se tornar debilitada e até perdida pelo pecado.
O Senhor Jesus Cristo, médico de nossas almas e de nossos corpos, que remiu os pecados do paralítico e restitui-lhe a saúde do corpo (cf. Mc 2, 1-12), quis que sua Igreja continuasse, na força do Espírito Santo, sua obra de cura e de salvação, também junto de seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois sacramentos de cura: o Sacramento da Penitência e o Sacramento da Unção dos Enfermos.

OS SACRAMENTOS DO SERVIÇO DA COMUNHÃO
O Batismo, a Confirmação e a Eucaristia são os sacramentos da iniciação cristã. São a base da vocação comum de todos os discípulos de Cristo, vocação à santidade e à missão de evangelizar o mundo. Conferem as graças necessárias à vida segundo o Espírito nesta vida de peregrinos a caminho da Pátria.
Dois outros, o Sacramento da Ordem e o Sacramento do Matrimônio, estão ordenados à salvação de outrem. Se contribuem também para a salvação pessoal, isso acontece por meio do serviço aos outros. Conferem uma missão particular na Igreja e servem para a edificação do Povo de Deus.
Nesses sacramentos, os que já foram consagrados pelo Batismo e pala Confirmação para o sacerdócio comum de todos os fiéis podem receber consagrações específicas. Os que recebem o sacramento da Ordem são consagrados para ser, em nome de Cristo, pela palavra e pela graça de Deus, os pastores da Igreja. Por sua vez, os esposos cristãos, para cumprir dignamente os deveres de seu estado, são fortalecidos e como que consagrados por um sacramento especial.
Parábola do Semeador (Mt 13, 1-23)

Freqüentemente, no nosso dia a dia nós preocupamos tanto com nossos afazeres nos esquecendo de valorar nossas tarefas. Neste sentido, passamos a buscar as coisas que nos encantam e nos apaixonam. Esquecemos que a vida e fé são ingredientes essenciais que vão muito além daquilo que buscamos objetivamente: liberdade e autonomia.

A parábola do semeador aguça nossos sentidos, nos inserindo neste dinamismo de fé e vida. Ela vem bater de frente com a dialética existencial nossa entre fé e vida tão presente na pós-modernidade.
Em virtude disso, precisamos apreender o verdadeiro sentido do semear vida e fé de forma linear, partindo de seres incompletos a caminho da completude. Semear vida e fé se faz necessário através dos nossos sentidos, para reavivar o gosto, o sabor e se degustar melhor nossa fé e vida harmoniosamente.
Partindo da parábola, percebemos no primeiro momento e durante a semeadura que o semeador deixou algumas sementes cair à beira do caminho. Vieram os pássaros e comeram, não atingindo seu objetivo que era plantar para colher frutos.

Esta semeadura nos remete a internalizar a nossa vida de fé enquanto, aqui, como seres crentes e viventes, que a semeadura é muito superficial, pois não percebemos através dos nossos sentidos onde estamos semeando e nem atingimos a semeadura. Ficamos na superficialidade da vida de fé. Semearmos sem semear. Não percebemos o que estamos fazendo. A vida e fé se separam. Não existe interação.

No segundo momento, o semeador deixou cair as sementes em terreno pedregosos com pouca terra. Esta semeadura nos remete a dar poucos frutos, pois a pedras predominam sobre a terra semeada, e logo vem o sol e as matam porque as raízes não são profundas, levando-as a morrer. Percebemos que esta semeadura mostra a pouca maturidade e consistência do ato de semear, discernindo melhor nosso ser religioso com nossas atitudes mais concretas. Conseguiremos distinguir melhor e alcançar a profundidade da palavra de fé e vida na nossa peregrinação como seres religiosos.

No terceiro momento, o semeador deixou as sementes caírem entre espinhos. Os espinhos cresceram sufocando as sementes. Este agir do semeador nos mostra claramente a nossa imaturidade da fé para crescemos, mesmo no meio dos espinhos mundanos. A nossa vida não aparece e fica só espinhosa, mostrando mais espinhos do que semente em nosso agir religioso. Os espinhos são o grande contraste da criação, pois através dos espinhos da vida percebemos mais claramente a bondade de Deus, que nos retoma, sustenta numa verdadeira apoteose de amor eterno.

No ultimo momento, o semeador atingiu a terra propriamente dita. Elas deram frutos em números diferenciados. Meditando sobre os frutos desta semeadura percebemos a capacidade que cada um de nós temos de semear a nossa vida de fé, propiciando que o mundo vislumbre, enxergue, ouça, perceba e deguste com mais alegria exercitando os sentidos.

Percebendo a nossa esperança e vontade de semear e observando o sentido da nossa semeação, levamos ao mundo mais avidez de semear o amor do reino que contagia e liberta as suas criaturas.
Um chamado à humildade e à misericórdia se desprende, portanto, do seio da parábola do semeador. Há um só campo do qual é lícito e necessário semear imediatamente: é o próprio coração.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

sexta-feira, 28 de março de 2014

QUARTO DOMINGO DA QUARESMA

Na liturgia da palavra deste quarto Domingo da quaresma, Jesus se apresenta como a luz do mundo. Nesse Domingo, ultrapassamos a metade da caminhada quaresmal, o grande retiro que a Igreja propõe a cada ano, como preparação para a celebração da Páscoa do Senhor.
Como é próprio da Liturgia, chega-se ao quarto Domingo da Quaresma cantando a alegria pela proximidade da Páscoa do Senhor. Alegria, igualmente, que ilumina a proposta divina de sermos seus aliados, para que o projeto do Reino aconteça entre nós.
O tema da vida interior, neste quarto Domingo da Quaresma, volta a ser proposto como caminho em busca da verdade que se encontra só em Deus. Em todos os momentos, somos convidados a buscar a verdade que se encontra em Jesus. Tudo depende da atitude de cada um de nós.
Assim, a quaresma nos é dada como sinal sacramental da nossa conversão em Cristo. É ele que nos converte e faz arder o nosso coração com a sua palavra. A conversão não é resultado do nosso esforço voluntarista, mas obra do Espírito de Deus que realiza em nós a transformação pascal, reavivando nossa adesão a Jesus Cristo.
As vestes de penitência apontam para a necessidade de tomar consciência do mal que está instalado no coração humano, assim como nas relações interpessoais e sociais. Se não fosse assim, não existiria a guerra, a violência, a destruição da natureza. Por isso, o grande apelo da quaresma é mudar de vida.
Vivemos numa realidade que, a cada dia que passa nos escraviza sempre mais. Influenciados pela ótica neoliberal, nos dias de hoje, o capitalismo não deixa de ser uma ideologia e uma prática marcante na vida de quem quer que seja.
A bem da verdade, os ideais do lucro e do ter são os fatores que nos movem e nos fazem sentir segurança apenas numa excelente posição social, cujo suporte é um salário que nos garanta no dia a dia de nossas vidas.
É o batismo que nos associa à Páscoa do Cristo e traz até nós seus benefícios. O batismo nos faz passar, nós também, da terra dos ídolos àquela do verdadeiro Deus, do exílio à Pátria, do Império de Satanás ao reino de Deus, da vida da terra àquela do Espírito, da escravidão do pecado para a liberdade dos filhos de Deus.
Ele nos introduz na Igreja, de que a terra prometida era uma figura. Ele nos faz passar da morte do pecado à vida da graça. Como a primeira Páscoa, ele se opera na água. Como a Páscoa do Cristo ele nos dá a vida eterna.
+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte
E-mail: domeduardorochaquintella@hotmail.com
Revelação e Encarnação

O primeiro e fundamental anúncio que a Igreja tem a missão de levar ao mundo, e que o mundo espera da Igreja, é o amor de Deus. No entanto, é preciso que os evangelizadores estejam imersos nesse amor para poderem transmitir essa certeza com credibilidade.
Amor é um sentimento, uma inclinação, uma bondosa disposição de Deus para nós. É algo real. É, ao pé da letra, o amor de Deus, o amor que circula na Trindade entre Pai e Filho e que, na encarnação, assumiu uma forma humana e agora nos é participado sob a forma de inabilitação.
O primeiro a se fazer não é reamar a Deus ou amar-nos como Deus nos amou. Primeiro temos outra coisa a fazer. Crer no amor de Deus. É a fé. Mas aqui se trata de uma fé especial: A fé que não sabe entender daquilo em que crê, mesmo crendo.
Enquanto, no âmbito humano, os dois tipos de amor costumam estar claramente repartidos, o Deus bíblico também ama como mãe. Ainda mais, o amor esponsal também é linguagem que atravessa toda a Sagrada Escritura e revela que o homem deseja Deus.
Já a encarnação é a etapa culminante do amor de Deus. Por muito tempo a resposta ao porquê de Deus ter se encarnado foi para nos redimir do pecado, mas, na verdade, é o amor o motivo fundamental da encarnação.
Deus quis a encarnação do Filho não só para ter alguém fora de si mesmo que o amasse de maneira digna de si, mas também e principalmente para ter fora de si mesmo alguém a quem amar de maneira digna de si.
E este é o Filho feito homem, em quem o Pai encontra toda a sua complacência e com quem fomos todos feitos filhos no Filho, aponta que Cristo não é somente a prova suprema do amor de Deus, mas o próprio amor de Deus que tomou forma humana para poder amar e ser amado a partir de dentro da nossa situação.
Eis a resposta da revelação cristã que a Igreja recolheu de Cristo e explicitou no seu credo: Deus é amor em si mesmo, antes do tempo, porque desde sempre Ele tem em si um Filho, o Verbo, a quem ama com amor infinito, que é o Espírito Santo. Em todo amor há sempre três realidades ou sujeitos: um que ama, um que é amado e o amor que os une. Na Criação, Revelação e Encarnação.

+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte
E-mail: domeduardorochaquintella@hotmail.com

quinta-feira, 27 de março de 2014

Igreja Serviçal

O Senhor deve ser o centro de nossas vidas, temos que colocá-Lo como prioridade no nosso dia a dia
Marta e Maria, irmãs de Lázaro, têm a graça de receber Jesus em sua casa e, no mesmo momento, manifestarem seu jeito de servir ao Senhor.
Marta é ocupada com os afazeres. Claro que ela compreendia a importância de Jesus, mas tinha suas obrigações, Por isso, ela se preocupa em deixar a casa arrumada para Ele.
Já Maria faz questão de mostrar que, primeiro, ela quer estar aos pés do Mestre, ouvindo Sua palavra. Não é que Maria não tinha seus afazeres, mas, naquele momento, ela escolheu a melhor parte.
Nós estamos atarefados demais, até mesmo com muitos serviços na Igreja, e não temos tempo de escutar o Senhor. É perceptível aos olhos a dificuldade que muitas pessoas vivem por não terem tempo de cultivar uma intimidade por meio da adoração, colocando-se aos pés do Mestre para escutá-lo.
Fazer isso não significa ter muitas tarefas, mas ter um tempo reservado para conhecer a Palavra, colocar-se na sua presença do Senhor e aprender a ouvir o que brota do Seu coração.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

terça-feira, 25 de março de 2014

BÍBLIA LIVRO DA COMUNIDADE

Toda a Palavra do Pai se concentra no Filho, que, ao entrar no tempo, historicista toda a Palavra de Deus e a faz transformar-se em sinal operante de salvação. Jesus Cristo, a Palavra viva de Deus, se engaja na história do povo. Cristo assume a história de opressão, de escravidão, de pecado para fazê-la história de libertação e de salvação.
Percebe-se que o povo de Deus, no decorrer dos anos, registrou por escrito a sua experiência de encontro e desencontro com Deus. Esse registro escrito, em forma de livros, que são 73, recebe o nome de Bíblia. Do Gênesis ao Apocalipse, a Bíblia é a memória libertadora, sempre viva, de como Deus criou, amou, ama a humanidade, sendo capaz de, num gesto de amor incondicional, entregar o Filho amado à morte para nossa redenção e salvação.
A Bíblia, escrita pelos homens, não é um livro humano, não é produto da mente. Escrita por homens e mulheres, o Autor Divino é a Trindade Santa; portanto a Bíblia deve ser lida, estudada e contemplada a partir da Trindade Santa, Mas encarnando-a em nossa realidade e história. Sem a Trindade, a Palavra de Deus fica vazia, sem sentido, uma Letra morta, e não produz fruto para o Reino de Deus. “Eu os destinei para ir e dar fruto, e para que o fruto de vocês permaneça”. (Jo 15,16).
Através da Bíblia, Deus fala ao homem à maneira dos homens; por isso, para bem ler e interpretar a Palavra de Deus é necessário estar atento àquilo que os homens quiseram afirmar e aquilo que Deus quis manifestar-nos pela Sua Palavra. São Paulo, escrevendo a seu irmão Timóteo, afirma que Ia Bíblia é inspirada por Deus, nela está tudo o que Deus, em sua infinita bondade, quis revelar aos homens. Essa revelação foi tematizada radicalmente sob a inspiração do Espírito Santo. Se não, a Bíblia Seria apenas um livro qualquer de contos, de literatura e de cabeceira e não seria jamais a Palavra viva de Deus, ontem, hoje e sempre. Como nos afirma São Paulo. "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar, corrigir, educar na justiça, a fim de que o homem seja perfeito e qualificado" (2Tm 3, 16-18).
Finalmente, do que fica dito é fácil compreender que, através da palavra de Deus, temos uma das, mais significativas presenças de Jesus no seio da comunidade. Para Jesus, o autêntico cristão é aquele que escuta, acolhe e prática a Palavra de Deus, pois, ignorar a Palavra é ignorar o próprio Deus. Vamos valorizar mais a Bíblia que é a Palavra de Deus operando na história humana a libertação da escravidão do pecado.
O conhecimento da Palavra de Deus é muito importante, mas não é suficiente para que uma pessoa se torne verdadeiramente cristã. O importante é assumir os valores que estão presentes nela, de modo que a Palavra de Deus se torne vida das pessoas, e assim elas testemunhem esses valores para todos e manifestem o amor de Deus para com seus filhos e filhas. Jesus nos faz uma grave advertência “Portanto, prestai atenção à maneira como vós ouvis!” Existem doutores na Palavra de Deus, mas que fazem da Palavra de Deus apenas objeto de conhecimento. É claro que o conhecimento da Palavra de Deus é importante, mas devemos ser doutores na sua vivência.
Assim como Jesus não parava, mas vivia caminhando de um lado para o outro anunciando a chegada do Reino de Deus, a sua Igreja não pode ficar parada. Ela deve ir sempre ao encontro do outro, abrir novas fronteiras no trabalho evangelizador para que todos possam ter a oportunidade de conhecer o Reino de Deus, assim como livremente optar por ele. Para realizar a sua missão, a Igreja deve, assim como o divino Mestre, envolver o maior número possível de pessoas, sem distinção entre elas, que queiram colocar a sua vida a serviço do Reino de Deus.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

segunda-feira, 24 de março de 2014

Terceiro Domingo da Quaresma

Neste Terceiro Domingo da Quaresma, a Liturgia da Palavra de Deus nos propõe leis justas que defendam e promovam a vida, principalmente dos que estão privados de dignidade. Ela também mostra que a religião não pode, de forma alguma, explorar as pessoas.
Por este motivo, o cristão não busca milagres ou sabedorias que sejam lenitivos intelectuais (ou frases religiosas de autoajuda), mas busca Deus em Jesus Cristo, o verdadeiro templo, aquele que conhece o homem por dentro, que conhece a vida interior de cada um de nós.
As leituras incentivam a conversão na vida interior pela busca da verdade em Cristo. Só em Cristo encontra-se a Verdade que pode habitar em nossos corações. Ou ainda, só Cristo é a Verdade do Pai, capaz de alimentar e iluminar nossa vida interior.
A catequese quaresmal nos atiça a mente e o coração para intensificarmos a busca do transcendente. É no Coração de Deus que nós encontramos o nosso descanso, a nossa paz, os nossos prazeres, a nossa felicidade, a nossa bem-aventurança.
Distanciar-nos daí é sair do caminho da felicidade, é correr pelos prados da insensatez, é viver uma vida que só pode levar à escuridão mais profunda e ao pior absurdo da vida humana, não ser feliz..

+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte
E-mail: domeduardorochaquintella@hotmail.com

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