segunda-feira, 19 de maio de 2014

CORPO E ALMA, ESPIRITO E MATÉRIA - 19/05/2014

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

Quanto mais analisarmos os dois elementos corpo e alma, espírito e matéria, em separado, mais somos inclinados a ver intervenções espirituais, sobrenaturais, de fora, na nossa realidade.

É precisamente essa visão tão comum de que forças espirituais podem ser invocadas para interferirem na nossa vida humana que está por trás dessas cenas de multidões à busca de cura sobrenatural.

Há duas visões fundamentais da relação entre Deus e mundo, espírito e matéria, corpo e alma. Uma visão acentua a distinção, a separação, a distância. Criam-se como que dois mundos opostos.

O mundo de Deus, do espírito, da alma, de um lado, e, de outro, o mundo das criaturas, da matéria, do corpo.

Outra visão da realidade tende para a união, a proximidade, a relação profunda e íntima entre os dois pólos, percebidos de maneira antagônica na perspectiva acima indicada.

Essa distinção é importante para entender a relação entre Religião e Saúde. Quanto mais se pensam os dois elementos corpo e alma, espírito e matéria, separadamente, mais se é inclinado a ver intervenções espirituais, sobrenaturais, de fora, na nossa realidade.

É precisamente essa visão tão comum de que forças espirituais podem ser invocadas para interferirem na nossa vida humana que está por trás dessas cenas de multidões à busca de cura sobrenatural.

Com efeito, pessoas enfermas invocam com muita fé essas forças para que elas as curem. E se acontecem melhoras ou mesmo curas, essa visão se confirma ainda mais.
Mas podemos entender o fenômeno de outra maneira que corresponde tanto a uma compreensão mais atualizada da ciência quanto a uma teologia mais esclarecida a respeito da ação de Deus.

Com efeito, as ciências biológicas e a filosofia entendem o ser humano numa unidade muito profunda de tal maneira que o corpo e a alma se relacionam intimamente.

As atitudes de alma, como alegria ou tristeza, vigor e depressão, coragem e desânimo, atuam profundamente sobre o corpo quer curando-o de doenças quer tornando-o mais frágil às investidas das bactérias, vírus ou outros inimigos de nossa saúde, respectivamente.

Não precisa invocar nenhuma influência sobrenatural para explicar muitas curas. Sem dúvida, a fé com que a pessoa se apresenta diante de uma pessoa dotada de qualidades extraordinárias predispõe seu corpo para reagir ativamente contra as doenças.
Evidentemente, há limites. Ninguém nunca viu, por exemplo, uma pessoa sem braço que foi a um desses lugares de cura e voltou com o braço. Nesse caso, certamente não poderíamos recorrer a nenhuma explicação pela via da relação profunda entre corpo e alma.

Mas, a questão encontra luzes na maneira de entender a criação. Facilita uma crença exagerada em milagres imaginar um Deus que criou o mundo lá naqueles inícios e que vem, de tempos em tempos, corrigir desajustes como doenças ou outros males.

Daí a necessidade de pedir loucamente para que ele faça milagres. E buscam-se avidamente esses milagres lá onde alguém parece realizá-los.

Diferentemente procedemos se cremos que o ato criativo de Deus é permanente. Ele habita esse nosso mundo. Em tudo que depende dele, procura nosso bem.

Toca-nos, isso sim, fazer tudo de nossa parte para que sua força criadora e salvadora atue o máximo para o nosso bem.

Então em vez de ir à cata de milagre, procuraremos viver a caridade, o amor no dia-dia, a responsabilidade em relação aos outros. Então acontecerão os verdadeiros milagres do amor, da justiça, da responsabilidade social.

Basta lembrar o maravilhoso milagre que foi toda a vida de Tereza de Ávila, sem que ela precisasse fazer nenhuma cura extraordinária.

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