sábado, 23 de abril de 2011

A Teologia Paulina da Cruz ( Novos Paradigmas)



Paulo nos quer dizer que não podemos fazer nada para merecer a salvação. E, se não entendemos isso, não entendemos nada do Evangelho. Verificando as epístolas de Paulo, porém, apenas três abordam a questão da gratuidade da graça e da justificação pela fé: Gálatas, Filipenses e Romanos.

O conceito-chave do pensamento Paulino, se concretiza diversamente em função das problemáticas encontradas e das culturas dos destinatários das cartas, mas que é central para todas as epístolas: aquilo que eu chamo de teologia da cruz. A cruz de Jesus, que morre como um homem sem qualquer qualificação perante a lei, torna-se o princípio de inteligibilidade do cristianismo.

A teologia Paulina da cruz fica mais densa em I Coríntios 1, 18-25, onde se lê: A linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem. Mas, para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus. Essa loucura, esse absurdo, ou seja, a cruz se atravessa em um imaginário de Deus como onipotente.

Paulo propõe justamente que se abandonem as categorias teológicas de onipotência para aceitar as manifestações inimagináveis e paradoxais de Deus.

A cruz é a nossa única teologia. De certa forma, a linguagem de Paulo vem crucificar, portanto, as nossas imagens anteriores de Deus. Em Jesus, a força de Deus se manifesta na sua extrema fragilidade.

Para Paulo, todos são gratuitamente justificados pela graça. Portanto, para o pensamento Paulino, não há um laço entre dar e receber a salvação. A fé é recepção gratuita, ato de confiança, não depende da peregrinação ou do desempenho do fiel.

Dois autores afirmam a teologia enfocada na cruz: de um lado, o evangelista Marcos e, do outro, Paulo. Paulo expressa pela argumentação, através de um discurso argumentativo, o que Marcos, por sua vez, interpreta em uma narrativa, isto é, utilizando o modo narrativo. O que os reúne é o fato de que, tanto para um como para outro, a verdade de Cristo, e bem mais a verdade do Cristianismo, só se expressa na cruz.

É nesse momento, então, que se manifesta a necessidade de espiritualidade. É preciso que os cristãos tenham nesse momento uma linguagem verdadeira, e esta linguagem verdadeira é a de um Cristianismo voltado não para uma cruz dolorista, mas para uma cruz promessa de vida ligada àquele que vive seu sofrimento com a convicção de que Deus o impulsiona para a vida.

Portanto, existe uma necessidade de espiritualidade evidente que não é menor do que a de antes, com a diferença de que o público desconfia de fórmulas prontas, o que eu chamo de fórmulas do catecismo, fórmulas doutrinárias que não se orientam para a existência.

E para isso, de fato, é preciso voltar à Escritura, porque é assim que aprendemos a despojar nossa linguagem das fórmulas calcadas, dos slogans, para seguirmos o percurso de vida de pessoas que podem atestar a presença de Deus que as acompanha.




Dom  Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

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