sábado, 23 de abril de 2011

A Teologia Paulina da Cruz ( Novos Paradigmas)



Paulo nos quer dizer que não podemos fazer nada para merecer a salvação. E, se não entendemos isso, não entendemos nada do Evangelho. Verificando as epístolas de Paulo, porém, apenas três abordam a questão da gratuidade da graça e da justificação pela fé: Gálatas, Filipenses e Romanos.

O conceito-chave do pensamento Paulino, se concretiza diversamente em função das problemáticas encontradas e das culturas dos destinatários das cartas, mas que é central para todas as epístolas: aquilo que eu chamo de teologia da cruz. A cruz de Jesus, que morre como um homem sem qualquer qualificação perante a lei, torna-se o princípio de inteligibilidade do cristianismo.

A teologia Paulina da cruz fica mais densa em I Coríntios 1, 18-25, onde se lê: A linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem. Mas, para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus. Essa loucura, esse absurdo, ou seja, a cruz se atravessa em um imaginário de Deus como onipotente.

Paulo propõe justamente que se abandonem as categorias teológicas de onipotência para aceitar as manifestações inimagináveis e paradoxais de Deus.

A cruz é a nossa única teologia. De certa forma, a linguagem de Paulo vem crucificar, portanto, as nossas imagens anteriores de Deus. Em Jesus, a força de Deus se manifesta na sua extrema fragilidade.

Para Paulo, todos são gratuitamente justificados pela graça. Portanto, para o pensamento Paulino, não há um laço entre dar e receber a salvação. A fé é recepção gratuita, ato de confiança, não depende da peregrinação ou do desempenho do fiel.

Dois autores afirmam a teologia enfocada na cruz: de um lado, o evangelista Marcos e, do outro, Paulo. Paulo expressa pela argumentação, através de um discurso argumentativo, o que Marcos, por sua vez, interpreta em uma narrativa, isto é, utilizando o modo narrativo. O que os reúne é o fato de que, tanto para um como para outro, a verdade de Cristo, e bem mais a verdade do Cristianismo, só se expressa na cruz.

É nesse momento, então, que se manifesta a necessidade de espiritualidade. É preciso que os cristãos tenham nesse momento uma linguagem verdadeira, e esta linguagem verdadeira é a de um Cristianismo voltado não para uma cruz dolorista, mas para uma cruz promessa de vida ligada àquele que vive seu sofrimento com a convicção de que Deus o impulsiona para a vida.

Portanto, existe uma necessidade de espiritualidade evidente que não é menor do que a de antes, com a diferença de que o público desconfia de fórmulas prontas, o que eu chamo de fórmulas do catecismo, fórmulas doutrinárias que não se orientam para a existência.

E para isso, de fato, é preciso voltar à Escritura, porque é assim que aprendemos a despojar nossa linguagem das fórmulas calcadas, dos slogans, para seguirmos o percurso de vida de pessoas que podem atestar a presença de Deus que as acompanha.




Dom  Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Domingo da Páscoa


A liturgia deste Domingo é toda centrada na ressurreição e garante-nos que a vida em plenitude resulta de uma existência feita dom e serviço em favor dos irmãos. A ressurreição de Cristo é o exemplo concreto que confirma tudo isto.

Neste Santo Domingo somos convidados a ressuscitar com o Mestre e nos tornar testemunhas e anunciadores da vitória da Vida sobre a morte. Devemos assumir nossa missão como testemunhas da Ressurreição de Jesus e anunciá-lo a todos que ainda não O conhece.  

Somos convidados a entrar no túmulo, a fazer primeiro a experiência do vazio, para podermos ir mais longe. Diante de um sinal, somos livres de interpretá-lo e de lê-lo, de lhe procurar o significado. Face a uma prova, não somos livres, estamos diante de uma evidência. O ato de fé exprime-se em presença de sinais e não de provas.

Como os discípulos, muitas vezes corremos atrás do maravilhoso que nos escapa e decepciona. Procuramos Cristo onde Ele não está. Durante o tempo pascal, exercitemos o nosso olhar para descobrir o Ressuscitado através dos sinais humildes da vida cotidiana. Como os discípulos de Emaús, descobri-lo-emos a caminhar perto de nós no caminho da vida e a abrir os nossos espíritos à compreensão das Escrituras.

Viver vida de ressuscitado não é fácil. Requer conversão todo momento. Todavia, Jesus ressuscitou para que ressuscitássemos também. Ele venceu a morte. Resta-nos ver e acreditar como João. João, pelas atitudes, demonstrou ter certeza que o seu Cristo vivia. A vida, o sofrimento, os acontecimentos do cotidiano nos fazem ver que, sem dúvida, Jesus existe, é Deus e está vivo.

Talvez nos falte acreditar, porque acreditar significa colocar Jesus em 1º lugar na nossa vida. Significa deixar tudo por amor ao Senhor. Significa testemunhar, dar a vida, se necessário, para que Jesus seja cada vez mais reconhecido como Senhor.

Falar que é Católico é fácil. Falar que se é cristão também. Agora, ser, de fato, é o que Jesus espera de cada um de nós, inclusive de Mim. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!!!


Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo  Diocese Belo Horizonte

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Sacerdote é o ungido do Senhor




O Sumo e Eterno Sacerdote. Torna-se o representante legítimo de Cristo. Quando preside a celebração dos sacramentos, principalmente a Eucaristia e a reconciliação, ele age in persona Christi, ou seja, na Pessoa de Cristo, fonte de onde provém a vida para todos os membros da Igreja. Por isso mesmo, quando na Celebração da Eucaristia, ele diz: “Isto é o meu corpo” e “este é o cálice do meu sangue”, o pão e o vinho se transformam no Corpo e no Sangue de Cristo pelo poder do Espírito Santo.

Da mesma forma, quando, na celebração do sacramento da reconciliação, ele diz: “Eu te absolvo de teus pecados”, é o próprio Cristo quem perdoa.

Dessa primeira consideração, já podemos tirar uma conclusão prática: se o sacerdote está identificado sacramentalmente com Cristo, seu estilo de vida deve ser o estilo de vida de Cristo. Aqui se encontra a razão teológica e espiritual para o carisma do celibato, o qual aproxima o estilo de vida do sacerdote ao estilo de vida de Cristo: celibatário, casto e virgem.

 O carisma do celibato ajuda o sacerdote a viver, com radicalidade, a caridade pastoral. Pelo anúncio da Palavra – Cristo e Sua mensagem – o sacerdote aproxima os seres humanos de Deus. Como educador da fé e da reta conduta humana e cristã, ele forma a personalidade do discípulo de Cristo.

 Além disso, o sacerdote é o ministro da santificação. Para usarmos a expressão do apóstolo São Paulo, ele é o dispensador dos mistérios de Deus, dos bens salvíficos que nos chegam pelos sacramentos.

 Os sacramentos são chamados canais da graça. Esses canais estão ligados a uma fonte que é o Cristo ressuscitado. É d'Ele que provém a graça salvífica para toda a vida da Igreja. Finalmente, pertence à identidade do sacerdote ser a imagem viva de Cristo, o Bom Pastor.

 O sacerdote governa o povo a ele confiado não como funcionário, mas com a autoridade do pastor. O rebanho não pertence a ele, mas a Cristo. Cronologicamente, o Ano Sacerdotal terminou na Festa do Coração de Jesus. Seu objetivo, porém, deve permanecer na vida de toda a Igreja: a oração pela santificação dos sacerdotes.

 O sacerdote santo é luz do mundo e sal da terra.

Fonte: Catecismo

Mensagem de Páscoa a Igreja Católica Carismática Diocese Carismática de Belo Horizonte


Em nome da Diocese Belo Horizonte, Clero e fiéis venho externar nosso ardente desejo que este Tríduo Pascal que vamos Celebrar, seja uma marca profunda de nossa experiência cristã fundante, de Igreja que celebra e propõe um ensinamento claro e objetivo dos conselhos Evangélicos, levando a nossa sociedade uma fé implícita e explicita como gesto profético do Reino de Deus no meio de nós.

Convido os Irmãos Bispos, Padres Diáconos e Diaconisas, e todos/as que coordenam as celebrações a revesti-las sempre de um conteúdo verdadeiramente pascal, no sentido do testemunho da ressurreição de Jesus, como fonte de renovação para nossas vidas e esperança e para a nossa sociedade.

As pessoas que participam de nossas celebrações têm o direito de sair delas verdadeiramente alimentadas em sua fé e reanimadas no seu caminho espiritual. Sem dúvida, isso acontecerá se soubermos viver os ritos, como testemunho de fé e devoção pessoal nossa, assim como expressões de comunhão afetuosa e acolhedora das pessoas.

Nada de cerimônias frias e distantes, realizadas de forma mecânica ou simplesmente apressada. Peço especialmente que demos atenção especial ao Celebrar-mos o Tríduo Pascal e mais ainda à Vigília Pascal.

Nesta Páscoa que a nossa Diocese e Paróquias apresente cada vez mais nítido, o rosto de uma Igreja autenticamente pobre, missionária e pascal, desligada de todo o poder temporal e corajosamente comprometida com a libertação de toda a humanidade e de cada ser humano por inteiro.

Para que a nossa Diocese de Belo Horizonte, hoje, isso se concretiza e se atualiza na proposta de sermos uma Igreja verdadeiramente missionária e acolhedora de todas as pessoas que nos procuram; que se constitua como espaço de diálogo de fé e de busca espiritual, mesmo para as pessoas e grupos que se sentem com pensamentos e sensibilidades diferentes.

A Páscoa nos revela que nenhum de nós é dono da verdade. Somos peregrinos se aceitamos caminhar de luz em luz até a Luz Divina.

O importante é que nossa fé se expresse na atitude que São Paulo recorda lhe ter sido recomendado na missão: o cuidado com os mais empobrecidos.

Celebrar o memorial da paixão, morte e da ressurreição de Jesus é atualizar para o nosso povo o amor que Jesus manifestou em cada palavra, gesto e atitude sua até o fato de dar a sua vida pela humanidade.


Se conseguirmos realizar isso o melhor possível, sem dúvida, poderemos experimentar a verdade, mesmo no meio dos sofrimentos e discórdias da sociedade moderna.

Que Deus os abençoe com  bênção pascal.


Feliz Páscoa!!

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Domingos de Ramos Ano A – (Mt 27, 11-54) – 17/04/2011.



 Nesta Solene Liturgia, do Domingo de Ramos, toda a Teologia e espiritualidade centra-se no grande acontecimento de nossa fé: o mistério Pascal do Senhor Jesus. Iniciando a Semana Santa, somos convidados a refletir mais profundamente sobre os últimos acontecimentos da vida de Jesus. A nossa fé não é uma ideologia de simples adesão a uma crença; ela deve nos impulsionar a ir ao encontro de Jesus.

 Depois da Quaresma, celebrada na ótica da mistagogia batismal, como é próprio do Ano A, o Domingo de Ramos se abre com gesto profético de Jesus Cristo, que recusa a violência e, pacificamente, entra na cidade com o seu projeto de vida: o Evangelho do Reino de Deus.

 O Domingo de Ramos é demonstração viva que podemos entrar na cidade com cantos e aclamações para dizer que não nos conformamos com nenhum tipo de agressividade que tira a paz, que destrói pessoas e devasta o meio-ambiente. Este é o nosso modo cristão de enfrentar conflitos. Não apelamos para a violência que sempre vai gerar mais violência, mas insistimos na força da paz.

 Jesus não celebra sua Páscoa no Templo, haja vista, que era predominantemente celebrada no Templo de Jerusalém, nem celebra no mesmo dia dos outros judeus. Talvez tenha antecipado de propósito, sabendo que no dia da Páscoa Judaica, estaria celebrando a Páscoa de todas as Páscoa, sobre a cruz. A Páscoa judaica lembra a libertação do Egito. A Páscoa Jesuâmica, quer dizer, de Jesus, lembra a libertação da escravidão do mundo, do pecado.


 Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

terça-feira, 12 de abril de 2011

Igreja Clericalizada



 A Igreja, na última década, tem se preocupado muito com a questão vocacional. Muitos esforços foram feitos: estudos, congressos, jornadas, experiências, tentativas, alguns programas conjuntos, colaborações dos leigos e de famílias.

 Porém, não é difícil ficar com a impressão de que se trata de solucionar problema particular, de que o urgente toma lugar ao importante. Constata-se ainda, certa indiferença e cansaço por segmento do clero e da vida religiosa, isto dificulta a visualização de um sinal do reino no meio do nosso povo.

 A sociedade, com suas propostas, suas ofertas: uma sociedade dominada pelo econômico, pelo ter. Uma sociedade que propõe como modelo o homem instalado no econômico, dominado pelo hedonismo e o anseio do prazer sem normas que faz da permissividade virtude.

 Uma sociedade em vertiginoso descenso religioso, em atitude de rejeição a toda forma de vida religiosa. Em toda nossa sociedade não entra a opção pelo reino como saída para nossos crentes.

 Há um esvaziamento do religioso. Esvaziamento tão profundo que coloca aos sociólogos a tarefa de repensar a fundo a questão, básica, do que seja religião. O cristão no mundo moderno é um homem perplexo. Fala de uma dificuldade em aceitar os ensinamentos do magistério eclesiástico. O homem moderno sente-se livre para recusar ou aceitar, ou o problema é mais profundo.

 A criação de um laicato consciente da própria fé, responsável pela vida da Igreja e sua atuação no mundo é significativo. É preciso dar ao leigo a autonomia que tem, por direito, na sua esfera própria de atuação. Os leigos não-clericalizados não gostam de ser tutelados.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O primado da graça na salvação do homem


 A justificação é uma dimensão da graça de importância fundamental. O favor de Deus é efetivamente concedido ao homem pecador, nele se mostra a iniciativa divina e, portanto, o primado absoluto da graça nessa concessão, embora ela não seja dada sem nossa cooperação. Com efeito, a filiação divina a que somos chamados desde o primeiro momento da nossa existência e à qual é chamada a humanidade desde do inicio da história só pode realizar-se na medida em que Deus nos perdoa, nos justifica.

 Paulo, o autor neotestamentário que mais fala da justiça de Deus, é um herdeiro dessa tradição. A fidelidade de Deus à aliança manifestou-se em Jesus, no qual Deus quer salvar-nos, no qual se dá, por conseguinte, a manifestação definitiva da justiça divina. A justiça de Deus é o poder salvífico que se opõe ao poder do pecado e o derrota. Assim, Jesus foi feito pecado para nós, para que pudéssemos tornar-nos justiça de Deus nele (2Cor 5,21). Assim, fomos reconciliados com Deus, deixamos de ser seus inimigos e passamos a ser amigos (Rm 5, 10).

 A justificação pela fé e a justificação gratuita encontram sua confirmação no exemplo de Abraão (Gn 15,6), ao qual é dedicado o capitulo quatro da epístola aos romanos. Abraão é o pai dos crentes porque teve confiança em Deus, abandonou-se a Ele, numa palavra, creu. Por isso, também nós fomos constituídos herdeiros da promessa pela fé, ou seja, pela graça. Tanto a justificação pela fé como a justificação pela graça se opõem à justificação pelas obras. Afirmar que o homem é justificado pela fé significa, portanto, que é justificado aquele que aceita o dom de Deus, que se renuncia a se auto-afirmar diante de Deus, que reconhece o primado de Deus na Salvação.

 O ser humano nada mais é que mentira e pecado. Por isso, aquele que não está incorporado em Cristo não pode realizar o bem (Rm 14, 13; 10,3), suas obras não provêm do amor e, assim, estará sempre maculado de soberba. Dai a necessidade da graça para as boas obras; essa graça tem efeitos diversos, mas dentre eles surge o auxilio, o adjutorium, para que o homem possa fazer o bem. A graça não é somente para o conhecimento do bem, mas também para executarmos o que conhecemos. A graça não nos é dada só para fazermos com mais facilidade o que poderíamos realizar sem ela, mas é absolutamente necessária para cumprirmos os mandamentos divinos.

 O cristão é, assim, libertado do pecado e orientado par Deus. Dele provêm as boas obras, assim como os frutos vêm da árvore boa. Mas essas obras jamais serão um mérito do homem diante de Deus. A graça requer, portanto, a cooperação humana no assentimento ao dom que se recebe, sem que com isso se perca alguma coisa de seu primado absoluto. E ai, juntamente com a liberdade no acolhimento da graça, insiste-se na transformação interior do homem que a justificação comporta: ela não é apenas a remissão dos pecados, mas a santificação e renovação do homem interior.

 A justificação não consiste somente na remissão dos pecados, nem na imputação da justiça de Cristo, nem no favor de Deus, mas na graça e na caridade, na justiça que vem de Deus, inerentes a nós. Mesmo sem utilizar uma linguagem escolástica, o Concilio afirma com clareza que o justificado é transformado internamente, que nele se produz não apenas uma mudança em sua relação com Deus, elemento sem dúvida de capital importância; filiação adotiva, amizade, mas também um novo modo de ser; o justificado é realmente justo, e não apenas considerado tal.

 Liberdade do homem, e, portanto cooperação com a graça na preparação para a justificação, e verdadeira transformação do justificado são dois pontos centrais que, para Trento e, por conseguinte, para a doutrina católica não são de modo nenhum um obstáculo ao primado absoluto da graça, mas devem ser vistos de preferência como conseqüências dela. A justificação é, resumindo o todo, uma ação de Deus no homem. A graça, cujo primado nunca sublinharemos o bastante, tem seu real efeito em nós e simultaneamente suscita nossa livre cooperação. Nesse contexto da justificação, não se pode afirmar Deus a expensas do homem nem muito menos o contrário.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

domingo, 10 de abril de 2011

Os sete Sacramentos da Igreja


 Os sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, por meio dos quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos visíveis sob os quais os sacramentos são celebrados significam e realizam as graças próprias de cada sacramento. Produzem fruto naquele que os recebem com as disposições exigidas.

 A Igreja celebra os sacramentos como comunidade sacerdotal estruturada pelo sacerdócio batismal e pelos ministros ordenados. O Espírito Santo prepara para a recepção dos sacramentos por meio da Palavra de Deus e da fé que acolhe a Palavra nos corações bem dispostos. Então, os sacramentos fortalecem e exprimem a fé.

 O fruto da vida sacramental é ao mesmo tempo pessoal e eclesial. Por um lado, este fruto é para cada fiel uma vida para Deus em Cristo Jesus; por outro, é a para a Igreja crescimento na caridade e em sua missão de testemunho.

 Sacramento são gestos de Deus em nossa vida. Realizam aquilo que expressam simbolicamente. Os sacramentos são, por conseguinte:

• Sinais sagrados, porque exprimem uma realidade sagrada, espiritual;
• Sinais eficazes, porque, além de simbolizarem um certo efeito, produzem-no realmente;
• Sinais da graça, porque transmitem dons diversos da graça divina;
• Sinais da fé, não somente porque supõem a fé em quem os recebe, mas porque nutrem, robustecem e exprimem a sua fé;
• Sinais da Igreja, porque foram confiados à Igreja, são celebrados na Igreja e em nome da Igreja, exprimem a vida da igreja, edificam a Igreja, tornam-se uma profissão de fé na Igreja.



OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ

 Pelos sacramentos da iniciação cristã - Batismo, Confirmação e Eucaristia - são lançados os fundamentos de toda vida cristã. A participação na natureza divina, que os homens recebem como dom mediante a graça de Cristo, apresenta certa analogia com a origem, o desenvolvimento e a sustentação da vida natural. O fiéis, de fato, renascidos no Batismo, são fortalecidos pelo sacramento da Confirmação e, depois, nutridos com o alimento da vida eterna na Eucaristia. Assim, por efeito destes sacramentos da iniciação cristã, estão em condições de saborear cada vez mais os tesouros da vida divina e de progredir até alcançar a perfeição da caridade.

OS SACRAMENTOS DA CURA

 Pelos sacramentos da iniciação cristã, o homem recebe a vida nova de Cristo. Ora, esta vida nós a trazemos "em vasos de argila" (2Cor 4, 7). Agora, ela ainda se encontra "escondida com Cristo em Deus" (Cl 3, 3). Estamos ainda em "nossa morada terrestre" (cf. 2Cor 5, 1), sujeitos ao sofrimento, à doença e à morte. Esta nova vida de filhos de Deus pode se tornar debilitada e até perdida pelo pecado.

 O Senhor Jesus Cristo, médico de nossas almas e de nossos corpos, que remiu os pecados do paralítico e restitui-lhe a saúde do corpo (cf. Mc 2, 1-12), quis que sua Igreja continuasse, na força do Espírito Santo, sua obra de cura e de salvação, também junto de seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois sacramentos de cura: o Sacramento da Penitência e o Sacramento da Unção dos Enfermos.

OS SACRAMENTOS DO SERVIÇO DA COMUNHÃO

 O Batismo, a Confirmação e a Eucaristia são os sacramentos da iniciação cristã. São a base da vocação comum de todos os discípulos de Cristo, vocação à santidade e à missão de evangelizar o mundo. Conferem as graças necessárias à vida segundo o Espírito nesta vida de peregrinos a caminho da Pátria.

 Dois outros, o Sacramento da Ordem e o Sacramento do Matrimônio, estão ordenados à salvação de outrem. Contribuem-se também para a salvação pessoal, isso acontece por meio do serviço aos outros. Conferem uma missão particular na Igreja e servem para a edificação do Povo de Deus.

 Nesses sacramentos, os que já foram consagrados pelo Batismo e pala Confirmação para o sacerdócio comum de todos os fiéis podem receber consagrações específicas. Os que recebem o sacramento da Ordem são consagrados para ser, em nome de Cristo, pela palavra e pela graça de Deus, os pastores da Igreja. Por sua vez, os esposos cristãos, para cumprir dignamente os deveres de seu estado, são fortalecidos e como que consagrados por um sacramento especial.

 Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

Oração de Jesus


A oração foi o tema central da vida de Jesus. Jesus saia do meio em que vivia para orar, pois sentia necessidade desta comunicação com Deus que lhe dava sentido na sua missão. Orar sem cessar nos joga dentro de nós e nos expira para missão de batizados no mundo.

 Vivemos no mundo onde a oração pessoal não está muito em moda. A sociedade em que vivemos nos interpela e nos faz desejar coisas materiais que nos ilude. A prática de Jesus nos ensina que devemos orar sem cessar, mesmo nos momentos de alegria, de angustia e de dor, pois com a certeza que o Pai tudo nos ajudará em nossa missão.

 A oração de Jesus é uma oração trinitária, pois sinaliza a sua grande intimidade com o Pai. O agir de Jesus no mundo foi desencadeado pela oração que lhe deu mais consciência e sentido na sua existência perante aos homens. Ele foi modelo de santidade e de oração.

 Podemos falar que a oração de Jesus não foi uma prática e sim uma práxis que alimentou todo o seu ser espiritual. Jesus foi um ser místico que dialogava com o Pai em todos os momentos de sua vida, pois a sua oração ficou bem delineada na sua ressurreição, nela ficou patente o seu verdadeiro messianismo. O messias do amor-serviço do amor-perdão, que restaurava todas as criaturas.

 A oração foi e sempre será uma abertura para os pobres, os prediletos de sua missão. A oração de Jesus é libertadora de todos os tipos de escravidão e sofrimento, e que nos impulsiona para uma vida de dignidade e com uma abertura para o amor. Com sua oração ele nos mostra a sua identidade e revela o rosto do Pai amoroso, do espírito consolador e animador, que anima e consola as nossas comunidades.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

Eu sou o caminho, verdade e a vida


 Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). O Ressuscitado apresenta-se como o caminho a ser seguido e que conduz ao Pai, a verdade que não escraviza e ilude, mas liberta, e a vida que se doa plenamente a toda a humanidade. A comunidade é o sacramento vivo da presença de Deus. Jesus é o caminho, a verdade e a vida.

 A imagem do caminho longo e difícil que Israel deve percorrer, atendendo o apelo do seu Deus e apoiando-se nele pela fé. A fim de chegar à terra prometida, pertencia à simbologia do êxodo (Dt 1, 30-33; 2,1-2; 8, 2-10).

 A seguir, a imagem do caminho foi aplicada à fé que revela as orientações que o Senhor propõe ao seu povo, visando às recompensas eternas (Dt 32, 4: Sl 25, 10; 128 1; 147 19-20).

 No Novo Testamento a imagem persiste, mas se transforma. Jesus inaugura uma nova maneira de andar segundo Deus e ao encontro com Deus (Mc 8, 34; Mt, 16, 24; Lc, 9.23; Hb, 10, 20), de tal maneira que o cristianismo nascente foi chamado o caminho (At 9,2; 18,25; 24 22).

 Mas a expressão toma em João uma significação mais profunda: Jesus não é somente o caminho na medida em que, por seu ensinamento, ele conduz a vida; ele é o caminho que conduz ao Pai na medida em que ele próprio é a verdade e a vida (Jo 10, 9).

 Jesus é a verdade porque é, enquanto filho encarnado, a expressão perfeita do Pai para os homens; ele manifesta o Pai (Jo 17, 8. 14: 1 18) tanto por sua atividade como por sua palavra.
É assim que ele introduz os que abraçam a fé na comunhão do Pai. Na qual consiste a plenitude da vida verdadeira (Jo 17, 3; 1 43,16).

 Para João, esta volta de Jesus para associar os seus à sua condição gloriosa não se situa apenas no fim dos tempos. Ela é escatológica. O já ainda não da salvação. Experimentamos já, mas ainda não definitivo. Pelo nosso batismo. Existe uma grande tensão na vida do cristão. Se me conheceis, conheceis também o Pai. No Jesus terrestre, que se dá a conhecer plenamente no evento pascal, é que Deus se revela totalmente.

 Jesus Cristo é a plenitude que eleva a condição humana à condição divina para sua glória: Eu vim para dar vida aos homens e mulheres e para que a tenham em plenitude (Jo 10,10).
Sua amizade não nos exige que renunciemos a nossos desejos de plenitude vital, porque ele ama nossa felicidade também nesta terra. Diz o Senhor que Ele tudo criou, para que de tudo desfrutemos (1 Tm 6, 17).


 Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

Oração experiência de fé


 Falar a Deus em colóquio amigável, descoberto e livre, em atitude de abertura no olhar, no escutar e no esperar, tem a ver com o ser de Deus e com a pergunta sobre Deus; e é a situação ideal para captar o mais possível a realidade de Deus, pois no rezar se exprime o constitutivo da experiência da fé, qualquer que ela seja.

 Mas também tem a ver com a essência do ser humano e com as suas relações constitutivas. Ao rezar, o orante não só pressupõe o ser de Deus, mas também exprime a idéia de si próprio: entende-se não como um ser fechado na imanência, dentro dos limites do humano, mas como aberto para uma dimensão transcendente. O rezar a Deus é, para além de muitas outras coisas, uma forma de ser humano; é uma forma de o ser humano se experimentar, se perceber genuinamente e se exprimir linguísticamente.

 Na Bíblia a oração, além de ser a forma mais densa de captar o ser de Deus, ao vê-lo revelado definitivamente na total comunhão com o ser humano, na pessoa de Jesus, foi a maneira excelente de o ser humano expressar a sua tendência a superar-se, na procura da transcendência. Viu-se como um ser para o divino, um ser que se realiza na relação com Deus. Porque a fé do povo bíblico acredita que Deus por própria iniciativa dirigiu aos humanos a sua palavra e lhes revelou o seu ser e a sua vontade, está convicta de que o ser humano pode falar com Deus.

 Porque entendia que Deus interpelava o povo criticamente, amigavelmente, salvíficamente, aprofundou a certeza de que Deus é alguém que se pode ouvir e invocar. No caminho da história dos homens com Deus, a oração bíblica constituiu, pois, um aspecto da captação e da correlativa revelação da imagem de Deus, mas também uma expressão da essência do ser humano.

 Para a fé bíblica, a oração é uma realidade tão espontânia que nem se discutia o seu sentido e a sua motivação. Surge como algo óbvio, insistindo-se sem cessar em não relaxar essa naturalidade. Esta naturalidade compreende-se bem se temos em conta que o povo de Israel vivia num ambiente cultural e religioso, o do antigo próximo oriente em que a oração era um ingridiente normal da vida humana.

 Não se pensa que em Israel ela foi uma realidade inédita e original, As muitas formas de oração dos povos de onde Israel era originário e no cruzamento dos quais vivia, isto é, os sumérios, acádicos, babilônios, assírios. hititas, cananeus e egípcios, estão abundantemente documentados. O que se pode dizer é que a oração do povo bíblico seguiu um percurso próprio que culminou na de Jesus, que estabeleceu o mais perfeito traço de união da humanidade com Deus.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

Antropologia Teológica da Salvação


 A Vida e a ação de Jesus mostram, claramente, que a salvação que Ele realiza em nome de Deus não é tirar-nos de nossa humanidade, mas, antes, tirar-nos daquilo que nos impede de sermos humanos. É nesse sentido que podemos entender, por exemplos, os relatos evangélicos que narram as curas e os exorcismos operados por Jesus: são gestos salvadores que devolvem às pessoas a plena capacidade de humanidade.

 Nesse sentido fica mais fácil entender que a salvação não é apenas conserto da natureza corrompida pelo pecado, mas muito mais que isso, ela é dom, acréscimo, dádiva, graça, excesso, abundância. Não se trata de refazer o que o humano foi, mais de dar realização plena às suas potencialidades, isto é, fazer com que o humano seja aquilo que é chamado a ser.

 Por isso, a salvação aponta muito mais para o futuro que para o passado, para o que podemos ser e seremos, muito mais que para o que fomos. Na teologia e no pensamento moderno, insiste-se no fato de que o homem não tem uma alma e um corpo, mas é alma e corpo. E, na medida em que ambos são corpo e alma do homem, ele é uno: essa unidade deveria ser o aspecto principal.

 Somente a partir dela é possível à distinção desses dois aspectos ou dimensão, momentos, nunca partes, de seu ser. O homem é corpo, ou seja, existe no espaço e no tempo, é parte deste cosmos, encaminha-se para a morte; é alma transcende os condicionamentos deste mundo, é imortal, e, em última análise, tudo isso tem sentido porque o homem é ser para Deus, é relacionado radicalmente a Ele.

 Há no homem uma dimensão irredutível ao material e ao mundano, ontologicamente distinta da realidade corporal. A fé cristã mantém esta concepção como algo a que não se pode renunciar, porque só assim pode ter sentido a concepção do homem criado à imagem de Deus, chamado à comunhão com Deus em cristo e à conformidade com o ressuscitado.

 É preciso uma nova compreensão antropológica que se baseie, inclusive, em Jesus de Nazaré que, para a nossa fé, é revelador do ser de Deus, mas também do ser humano. Com efeito, é Jesus que nos revela o que é humano, ou para dizer de outra maneira, o que significa ser humano neste mundo.

 A compreensão do ser da humanidade, neste sentido, não parte de minha experiência de humanidade, uma experiência fragmentada e incompleta, mas sim da vida de Jesus, o novo Adão, isto é, o fundador da nova humanidade e, por isso, revelador do ser humano.

 Claro que a formulação antropológica da teologia deve levar em conta os avanços da ciência, sobretudo as chamadas ciências humanas, que ajudam a compreender o significado da humanidade. Hoje, existem multiplicas antropologias, isto é, formas de compreensão do significado do humano no mundo.

 A antropologia neoliberal, que afirma que o ser humano é o consumo, não é a única antropologia possível nos dias de hoje, e por isso pode ser questionada. Existem, também, as antropologias indígenas que afirmam que o ser humano se realiza na festa e na dança, e não no sucesso ou no consumo.

 Mas o discurso antropológico da teologia não pode ser simplesmente funcionalista ou ideológico. Tem de ser teológico, o que significa partir da Revelação. È preciso colocar a questão antropológica aos pés de Jesus, e dele aprender o que significa a humanidade que partilhamos.

 Não posso escolher uma antropologia segundo minhas convicções ou vontades pessoais, mas sim ver qual ou quais antropologias resistem a critica de Jesus. Claro que as ciências humanas podem ajudar-nos a compreender o que Jesus nos revela sobre nossa humanidade, e assim auxiliar-nos a distinguir aquilo que constrói o humano daquilo que não o constrói.

 Mas o cristão não perde de vista que a Revelação, de Deus e do humano, vem de Jesus. Aqui, desnecessário dizê-lo, reside toda a importância da cristologia: o cruzamento da história de Deus com a história humana, indicando o caminho da salvação.


 Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

sábado, 9 de abril de 2011

V Domingo da Quaresma (Jo 11,1-45) Ano A Eu sou a ressurreição e a vida


 Neste V Domingo da Quaresma a Liturgia nos apresenta o Senhor Jesus como nossa Ressurreição e Vida. A narrativa da ressurreição de Lázaro corresponde ao último dos sete sinais de libertação realizados por Jesus no evangelho de João. Os sete sinais têm por objetivo levar os cristãos a refletir sobre o sentido profundo da existência humana.

 A celebração Dominical é a atualização do Mistério Pascal que deve ser eficaz. O Mistério só se torna presente, na medida em que opera algo em nós. A celebração dominical é muito mais do que uma simples comemoração da Páscoa, é a nossa participação efetiva no Mistério da Paixão, morte e Ressurreição do Senhor que opera a nossa renovação pascal.


 Podemos dizer que o batismo nos dá essa vida nova porque ele nos dá como princípio vital a fé e a adesão a Cristo. O batizado vive realmente uma vida nova, animada pelo Espírito de Cristo. Mas sem a fé, traduzida em obras, o batismo fica morto. A vida da fé batismal se verifica quando transforma a pessoa e a sociedade em comunidade de vida, de fraternidade e comunhão.

 A vida cristã é uma caminhada escatológica, rumo à Páscoa e ressurreição. Neste tempo de Quaresma, somos convidados a deixar definitivamente para trás o passado e a aderir à vida nova que Deus nos propõe.

Nesta peregrinação quaresmal, há duas coisas a considerar: Deus desafia-nos à superação de todas as realidades que nos escravizam e sublinha esse desafio com o seu amor e a sua misericórdia; e convida-nos a despir as roupagens da hipocrisia e da intolerância, para vestir as do amor.

 Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

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