sábado, 19 de abril de 2014

Homem Pleno 

Dom Eduardo Rocha Quintella 

Portal na Internet: www.domquintella.com.br 

Ser perfeito, no sentido que Jesus Propõe, é amar a mim mesmo como sou e a outras pessoas como são. Alguém movido pela pressão da perfeição poderia me retrucar imediatamente: mas, nós devemos melhorar, e não aceitarmos como nós somos agora. 
Eu concordo com isso. Nós podemos e devemos tentar ser melhores e melhorar o mundo, mas não podemos negar a nossa condição humana. Isto é, devemos lutar contra a situação em que está a minha vida e a nossa sociedade, mas não contra a nossa condição humana. 
E a noção de perfeição dominante na nossa cultura ocidental é uma proposta que vai contra a condição humana. Os próprios mitos e tragédias gregas alertavam contra a tentação de querermos superar a condição humana para chegarmos à perfeição, como os deuses.
A nossa libertação do sistema começa por um caminho que, à primeira vista, parece paradoxal. Ela começa com a confissão de que há em nós desejos e anseios, aos quais a indústria de consumo não pode responder. Aos quais, aliás, nenhuma indústria de prazer conseguirá responder. 
Ela continua com a afirmação, diante de si mesmo, de que ter anseios e desejos não satisfeitos é legítimo e normal. Tais desejos não satisfeitos e as suas conseqüentes frustrações fazem parte do ser humano. Eles constituem o seu modo de ser. 
Para quem aprendeu esse dado fundamental, a libertação, num terceiro passo, se realiza pela conscientização de que muitos dos desejos e anseios da pessoa humana não podem ser satisfeitos e nunca poderão ser satisfeitos. 
O homem, por natureza, é marcado por um profundo anseio de felicidade; por natureza, sonha com algo que o transcende, que vai além de todas as suas limitações. Por causa dessa sua tendência rumo ao transcendente, sempre ficará insatisfeito. 
Descobrimos, assim, o fato paradoxal: o estado de frustração faz parte do estado natural de cada um de nós. Se quisermos ser felizes, primeiro, devemos reconhecer que a felicidade plena não pode ser alcançada. Por causa disso, devemos aprender a ser frustrados. 
Devemos aprender a viver com as nossas frustrações. Vou até mais longe ainda: devemos aprender a compreender as nossas frustrações como algo positivo, natural, que faz parte de nossa condição de vida como seres humanos.
Reconhecer tal fato já é o primeiro passo, por meio do qual nos libertamos da ditadura da busca constante pelo prazer. Não precisamos de prazer ininterrupto. Somos capazes de viver sem prazer. Somos capazes de suportar uma dose bastante alta de dor e de frustrações. 
E suportando tais situações, não quebraremos, mas, pelo contrário, cresceremos em nossa estrutura pessoal. Cresceremos como pessoas e como indivíduos. Estamos assim confrontados com a verdade incômoda e paradoxal de que, suportando dor e passando por frustrações, nos tornamos pessoas mais desenvolvidas e indivíduos mais ricos.

+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

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