segunda-feira, 10 de junho de 2013


Vocação Eclesial



A Igreja é a assembléia dos vocacionados. Ela não é a fonte, mas a mediadora de vocação e o lugar de sua manifestação. Ela não dá vocação ou carismas, mas organiza e discerne os ministérios. A vocação e os ministérios são elementos fundamentais e constitutivos da Igreja. Sem vocações e ministérios não há uma comunidade eclesial. A vocação por excelência é à santidade. A ela somos chamados a partir do batismo; um chamado à fé, ao seguimento e à graça. Todas as outras vocações nascem da vocação batismal. O batismo é a base que sustenta todos os ministérios. O padre é para o leigo, e o leigo é para o mundo.

A missão da Igreja é transformar o mundo sendo sinal e instrumento de realização do Reino de Deus. A Pastoral não é uma pastoral pragmática. É uma ação evangelizadora, uma atividade eclesial da comunidade de fé que traz consigo uma visão de Deus, de pessoa humana, de Igreja, de missão e de mundo. Todos na Igreja são chamados para um determinado serviço. Somos um povo de servidores. Nossa prioridade é a promoção da vida, dos direitos humanos, resgatando os que sofrem a exclusão social. Nesta linha de reflexão, a vocação dos ministros ordenados está a serviço das outras vocações. Ela é estrutural e estruturante na Igreja. É o serviço que organiza os demais serviços. Todos porém somos servos uns dos outros, vocações irmãs entre si. Trata-se de um ministério em função dos outros serviços da comunidade eclesial numa visão recíproca e fraterna das vocações.

Portanto, busca-se construir uma Igreja de corresponsabilidade e comunhão. Chego à conclusão de que a Pastoral no Brasil deve ter características específicas como a criatividade e o pioneirismo de presença junto ao povo e compromisso com a causa popular e a inserção nas comunidades. Isso porque a vivência próxima ao povo ajuda os vocacionados e vocacionadas no discernimento de formas mais solidárias e de evangélica opção preferencial pelos pobres. Esta relação de proximidade dá sentido e vigor a uma Igreja de comunhão e participação.

A Pastoral da igreja, no Brasil, deve ser contextualizada, tendo os seguintes traços: a) Uma Igreja toda ministerial, de comunhão e participação, caminho da Pastoral Vocacional marcada por uma espiritualidade trinitária; b) Uma Pastoral Vocacional inculturada, dialogal, profética e ecumênica, aberta aos sinais dos tempos, que reforce o querer e a liberdade dos vocacionados e vocacionadas (Mt 19,21); c) Uma Pastoral Vocacional que valorize a pessoa na sua dimensão antropológica, integrando os diversos aspectos do vocacionado e vocacionada, ajudando-o e ajudando-a a fazer uma autêntica experiência cristã de Deus; d) Uma Pastoral Vocacional atenta à cultura urbana, englobando as questões sociais e da pós-modernidade.

Fica bem claro que a Pastoral da Igreja do Novo Milênio precisa de um aprofundamento bíblico e teológico sério, enfatizando as dimensões trinitária, cristológica, eclesiológica e mariológica.  Ainda que a Pastoral da Igreja necessita de uma atenta leitura orante da bíblia na ótica vocacional, evitando ler vocacionalmente apenas alguns textos. Ainda que a Pastoral da Igreja do século XXI deverá abrir mais espaços para as pessoas excluídas, para os deficientes, e para a diversidade cultural: indígenas, nômades, migrantes, afro-brasileiros, etc.
Uma urgência a integração, à luz das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, da Pastoral Vocacional com as pastorais afins: familiar, juventude e catequese.. Os aspectos antropológicos, tais como as questões de gênero, a afetividade, a sexualidade, o homossexualismo e o celibato, precisam ser levados mais a sério. O serviço de animação vocacional, neste milênio, vai depender muito do aprofundamento que se fará dos aspectos bíblicos e teológicos do carisma e da missão dos leigos e leigas, do ministério ordenado e da Vida Consagrada. Será necessário rever as estruturas formativas dos seminários e das casas de formação e esclarecer melhor o papel da hierarquia e do povo de Deus no discernimento vocacional.

Destaco a importância da mística e da espiritualidade trinitária como fontes da animação vocacional. Lembram que esta mística e esta espiritualidade redefinem a Pastoral Vocacional, colocando-a também numa dimensão profética e sócio-transformadora. Dando vigor à vivência da fé e à luta pela justiça. Neste sentido, o aspecto político da nossa vocação e missão. O clamor do povo, a realidade sócio-econômica. Tornam-se importantes para o discernimento vocacional. Pela sensibilidade social e pela compaixão para com o povo excluído, o vocacionado ou vocacionada poderá sentir, de forma impetuosa, o chamado que vem de Deus. O grito do povo, visto com os olhos da fé, torna-se uma das principais mediações humanas para o chamamento divino.

Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

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