Ao longo do
último século, o ser humano cresceu, progrediu e se desenvolveu mais do
que em todos os tempos históricos da humanidade, particularmente nos campos da
ciência, tecnologia, da medicina, das artes, ofícios, infraestrutura, com a
conseqüente melhoria das condições de vida na Terra.
No entanto,
apesar de todo avanço alcançado pelo homem no meio social, político, econômico
e cultural, a grande maioria das pessoas vive à margem da sociedade de consumo,
mesmo em países desenvolvidos, vivendo na mais profunda miséria material,
moral e espiritual.
Os desafios existenciais do homem contemporâneo diante do
pluralismo e incertezas que permeiam nosso tecido social hoje é exatamente o que
significa o homem ser humano? Podem parecer óbvias a pergunta e a resposta, mas
na realidade traz consigo um desafio próprio do nosso tempo.
Diariamente
nos deparamos com crianças abandonadas nas ruas, idosos em depósitos públicos,
irmãos nossos chafurdados em latas de lixo procurando o que comer pessoas sem
perspectivas de trabalho, moradia, saúde, condições dignas de vida.
O grande desafio e discussão
são exatamente sobre os valores que nos tornam humanos. Quais são as nossas
características humanas. E essa discussão, embora toque bem de perto em
assuntos teológicos, na realidade deixa claro que necessitamos hoje de
verdadeiros embasamentos filosóficos.
Vivendo nos
grandes centros urbanos adotamos um modo de vida fundamentado na lógica
material, na cultura fabricada, onde tudo passou a ser mecânico, descartável,
de coisas a pessoas, gerando um estado de insatisfação permanente, mesmo diante
de toda a satisfação material, provocando nas pessoas desvios de
comportamento, vida solitária, egoísmo, vaidade, luxúria, processo depressivo e
alienação.
Aqui se situa o futuro de
nossa humanidade. Se os valores pelos quais lutamos e vivemos dependem
unicamente de uma maioria que decide e não de algo muito mais profundo no ser
humano, estaremos correndo sérios riscos em nossa própria dignidade humana.
Este
é o grande problema da humanidade, que não quer olhar para si própria, pois o
ser humano se desligou de si mesmo, tendo muito medo de ver seu interior. Vamos
dizer que ele odeia a percepção do seu íntimo.
Os pensadores de hoje não
podem deixar de aprofundar sobre o assunto. A universidade, que é o lugar
próprio do diálogo dos saberes, deve se engajar nessa discussão. É um tema
necessário e importantíssimo para a vida do homem neste planeta.
Em seu livro Tempo de
transcendência, Leonardo Boff nos diz que o ser humano é um projeto infinito.
Apesar da finitude ser inerente à condição humana, pois somos seres que
caminhamos para a morte, o homem busca o infinito, e aí reside a dimensão da
transcendência.
No dizer de Boff, somos
seres de enraizamento e seres de abertura (imanência/ transcendência). A raiz
nos limita porque nascemos numa determinada família, numa língua específica,
com um capital limitado de inteligência, de afetividade, de amorosidade.
Esta é nossa dimensão de
imanência. Mas somos simultaneamente seres de abertura, pois ninguém segura os
pensamentos, ninguém amarra as emoções, ninguém é capaz de aprisionar-nos
totalmente.
Esta é a nossa dimensão da
transcendência que nos possibilita romper barreiras, superar os interditos, ir
além de todos os limites. Nessa sociedade tão cheia de perguntas e de muitas decisões
que influenciam a vida humana, uma reflexão sobre o transcendência do ser
humano poderá lançar luzes sobre a nossa vida e nosso futuro. Que suscitam
tantos debates éticos e morais contemporâneos, para desembocar no sentido
último da existência e da realidade, à luz da fé.
+Dom Eduardo
Rocha Quintella
Bispo Belo Horizonte
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