quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A Virtude da Compaixão



Sem a Compaixão o Homem não existe.

A compaixão talvez seja, entre as virtudes humanas, a mais humana de todas, porque não só nos abre ao outro, como expressão de amor dolorido, mas ao outro mais vitimado e mortificado. A compaixão anula as diferenças e faz estender as mãos às vitimas. Não importa a ideologia, a religião, o status social e cultural das pessoas.

Mesmo que a nossa vida e o mundo não se transformem na intensidade e na velocidade dos nossos desejos, sabemos que nossas ações transformam ou modificam para melhor, não somente a vida de outras pessoas, mas também a nós mesmos. Diante da desgraça do outro não há como não sermos os samaritanos compassivos da parábola bíblica.

Na nossa vida sempre encontramos ou cruzamos com pessoas que estão sofrendo por algum motivo. Nestes momentos todos nós somos de um modo ou outro, tocados pelo sofrimento alheio. Isto se chama compaixão.

A compaixão tem algo de singular: ela não exige nenhuma reflexão prévia, nem argumento que a fundamente. Ela simplesmente se nos impõe porque somos essencialmente seres compassivos.

Na compaixão se dá o encontro de todas as religiões, do Oriente e do Ocidente, de todas éticas, de todas as filosofias, teologias e de todas as culturas. No centro está à dignidade e a autoridade dos que sofrem, provocando em nós a compaixão ativa.

A compaixão de Cristo para com os doentes e suas numerosas curas de enfermos de todo tipo são um sinal evidente de que Deus visitou o seu povo e de que o Reino de Deus está bem próximo.

Jesus não só tem poder de curar, mas também de perdoar os pecados: ele veio curar o homem inteiro, alma e corpo; é o médico de que necessitam os doentes. Sua compaixão para com todos aqueles que sofrem é tão grande que ele se identifica com eles: Estive doente e me visitastes (Mt 25,36).

Seu amor de predileção pelos enfermos não cessou, ao longo dos séculos, de despertar a atenção toda especial dos cristãos para com todos os que sofrem no corpo e na alma.

Reprimir o sentimento inevitável da compaixão é reprimir uma parte do eu que está nas profundezas do nosso ser. Em outras palavras, quem nega o sentimento de compaixão não pode se conhecer e, por isso, nem consegue encontrar uma solução para os seus problemas que foram escondidos, empurrados e trancados no mais fundo de si.

Quem não é capaz de permanecer no sentimento de compaixão, não consegue viver uma vida feliz porque tenta negar a sua própria natureza humana.

Em nossa vida, por vezes nos surpreendemos, seja pelas coisas bonitas que somos e realizamos, seja pelas limitações e contradições que experimentamos. Saber da existência desses paradoxos, nos permite ser mais humanos e mais acolhedores.

E as perguntas que, na maioria das vezes, não encontram respostas, freqüentemente nos visitam a consciência: Por que, se temos capacidade de fazer o bem, optamos pelo mal? Por que desenvolvemos a capacidade destruição quando podemos criar harmonia e boa convivência?

Quando sentimos a compaixão, desejamos que os sofrimentos das outras pessoas cessem, não só porque as amamos ou acreditamos que elas têm direito a uma vida mais digna e humana, mas também para que os nossos sofrimentos resultantes da compaixão sejam aliviados.

Neste processo sentimo-nos compelidos a fazer algo para mudar a situação, assim como também incluímos no nosso horizonte de futuro desejado a superação das situações que causam estes sofrimentos.

Abertura ao sofrimento alheio que nos permite tomar contato com os nossos sofrimentos e medos, a esperança de um futuro onde estes problemas foram solucionados e ações concretas que nos dão convicção firme de que estamos, dentro das possibilidades, fazendo a coisa certa para caminharmos em direção a este futuro desejado são elementos fundamentais de uma vida feliz.

É claro que não devemos cair na tentação e pressão de sermos perfeitamente compassivos e capazes de ações perfeitas e plenas para salvar o mundo. Só na medida em que aceitamos a nossa dificuldade é que poderemos viver e fazer o que podemos de fato.

Compaixão, responsabilidade e solidariedade são valores fundamentais para salvarmos o mundo e as nossas vidas do niilismo, cinismo, da indiferença e da desumanização.

Mesmo que a nossa vida e o mundo não se transformem na intensidade e na velocidade dos nossos desejos, sabemos que nossas ações transformam ou modificam para melhor, não somente a vida de outras pessoas, mas também a nós mesmos.

Sem a compaixão o homem não existe. Pois a realidade está em Deus. Exercitando a compaixão saímos dos túmulos do pecado e da miséria humana. Alcançamos à imortalidade. A compaixão nos livra de morrer em vida.




+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo  Diocese Belo Horizonte

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