domingo, 3 de novembro de 2013

O Sacrifício na Bíblia 
(Gênesis 22, 1-19)

O livro do Gênesis é repleto de sagas do antigo Israel, veiculando o modo de ver e viver das tribos, que sempre se reportavam às suas raízes. Tais sagas são muito ricas de significado, e a do sacrifício de Isaac, é particularmente significativa do ponto de vista psicológico e social, valido até hoje. 

Do ponto de vista da história das religiões, a primeira coisa a notar é que Deus de Israel é o Deus da vida, e não quer sacrifícios humanos de nenhuma espécie. Ele espera do homem gratidão e exige obediência, não aceitando-as na forma de sacrifício de animais. 

O tema é muito importante: se Deus não quer sacrifícios humanos, muito menos o homem deve praticá-los ou aceitá-los. E entenda-se aqui todo tipo de sacrifício, desde a opressão que diminui a vida, até o ato de matar, que a suprime. Deus é vida, e o homem deve aprender a proteger e a promover a vida. 

O autor sagrado soube dar uma forma especial à saga, do sacrifício de Isaac enchendo-a de reticência e suspense, fazendo com que o leitor participe ativamente de toda a trama, ora identificando-se com Abraão ora com Isaac. As dimensões do segredo e do silêncio mantêm o suspense, levando o leitor a contribuir com o seu próprios sentimentos. 

Já de início somos advertidos de que o conjunto constitui uma prova, uma experiência. Prova é colocar algo ou alguém numa determinada situação para ver como reage. Só que no caso da coisa, a reação é física, e no caso do homem, além de física, é principalmente psíquica, já que o homem possui a instância superior da liberdade. É assim que Dt 8,1-6 classifica o tempo do deserto para Israel: Javé queria ver como Israel reagia à prova. 

Porque Deus queria prova. Sem dúvida ver se Abraão não tinha se acomodado. Isaac era o esperado filho através do qual iria se realizar a grande promessa de ser um futuro povo numeroso (Gn 12). Bastava isso. Era necessário ver se Abraão continuava alerta na fé e na obediência, pois o futuro pertence em primeiro lugar a Deus. É temendo e obedecendo a Deus que o homem alcança o futuro.


Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Católica Belo Horizonte

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