Dom Eduardo R. Quintella - Traça elementos essenciais a Pastoral da Saúde
07/09/2013
VISITA AO DOENTE: A ARTE DE ESTAR COM O OUTRO
O que devo fazer quando o doente fica em silêncio ? Quando ele chora, quando está inconsciente, em estado terminal, com uma doença incurável, revoltado ou depressivo, quando é de outra religião ou ateu, quando não aceita orações e sacramentos, ou ainda quando não está muito disposto a receber visitas e conversar?
Talvez essas sejam as perguntas que mais angustiam os agentes de pastoral da saúde quando visitam os doentes. Por isso, esses são, sem dúvida, os questionamentos que mais ouço quando dou cursos para agentes de pastoral da saúde, ministros da eucaristia e/ou pessoas que visitam doentes nos hospitais e em casa.
Essa angústia aumenta ainda mais quando, nos cursos, falo sobre aquilo que o agente não deveria dizer aos doentes. Ou ainda quando chamo a atenção para que nas vi- sitas os agentes não repitam frases feitas tais como você vai sair dessa, você vai ficar bom, nada acontece por acaso, eu já vi coisa pior, hoje é você, amanhã poderá ser eu, graças a Deus que você está num bom hospital, Deus não dá nada mais daquilo que a gente não pode suportar, comparado ao de Jesus seu sofrimento não é nada. Enfim, aquelas palavras que soam muito bem para quem fala, mas que pouco ajuda quem ouve.
Ao mesmo tempo, procuro ressaltar a importância de não fazer muitas perguntas, não usar os recursos da oração como uma maneira de não se envolver ou se livrar das pessoas, não ter uma preocupação exagerada em oferecer e/ou distribuir sacramentos, orações e bênçãos. Ou então pensar que pode e deve “resolver” os problemas dos doentes, dos familiares ou das pessoas que, direta ou indiretamente, cuidam dele.
Depois de recomendações de não repetir frases feitas, fazer muitas perguntas, tentar impor suas convicções religiosas a ninguém, ter tanta preocupação em falar de Deus, de distribuir sacramentos ou ficar fazendo orações com os doentes, os visitadores, agentes de pastoral da saúde, perguntam: Mas, afinal, se não podemos fazer assim, o que devemos fazer ou dizer? Será que vale a pena continuar visitando os doentes?
A IMPORTÂNCIA DA VISITA
Todos os que se dispõem visitar os doentes, nos hospitais ou em casa, devem ter uma certeza: Toda e qualquer visita, mesmo que seja feita de maneira não muito conveniente, sempre acaba provocando certo bem-estar para a pessoa. Anão ser que o visitador caia num vale de lágrimas: leve e exponha seus problemas pessoais e dificuldades para o doente que já tem os seus.
Os livros e artigos sobre relação de ajuda e Pastoral da Saúde ressaltam o bem-estar que a visita provoca nas pessoas. Ao mesmo tempo, lembra que na visita pastoral não existe o certo e o errado. O que existe são maneiras, mais ou menos convenientes, de estabelecer uma relação de ajuda com os doentes. Acrescenta-se a tudo isso que, na visita pastoral, cada caso é um caso.
Não podemos nos dar ao luxo de pensar que não precisamos de nenhum preparo para esse tipo de trabalho. Infelizmente, são muitos os que pensam dessa maneira. Assim, desde que eu tenha fé, amor e boa vontade, o resto o Espírito Santo garante. Uma boa preparação ajudará o agente a descobrir a maneira mais conveniente de visitar um doente e, sobretudo, que a visita é uma oportunidade de estar com o outro.
O ESTAR COM O OUTRO
Todas as dúvidas e inquietações surgidas nas visitas pastorais resultam da preocupação do agente em fazer algo pelo outro: O que eu posso fazer para ajudar o outro a resolver seus problemas?
No entanto, na visita pastoral, mais importante do que pensar no que eu posso fazer, é pensar que a finalidade principal da visita não é fazer algo pelo outro mas estar com o outro. Estando com o outro, certamente poderei ajudá-lo de alguma maneira. Porém, se minha preocupação maior for fazer algo, a impossibilidade de realizar tal tarefa poderá causar certa frustração.
No Novo Testamento são muitos os relatos que mostram as atitudes de Jesus para com as pessoas. Chama nossa atenção a maneira de Jesus agir. Embora não tivesse maior preocupação em reunir grandes multidões, sabia como ninguém, quando estava com as pessoas, aproveitar bem as oportunidades. No capítulo quatro do evangelho de São João por exemplo, temos o episódio que narra o encontro com a mulher samaritana que estava apanhando água no poço (cf. Jo 4). Nele, Jesus se coloca na condição de necessitado, só depois que ela se sente amparada começa a fazer algo por ela, ou evangelizá-la.
No evangelho de Lucas, na caminhada com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35), antes de fazer qualquer observação ou recomendação, caminha durante algum tempo com eles. Só depois de ouvi-los, provoca confronto. "Afinal, sobre o que vocês estavam conversando enquanto caminhavam pelo caminho?" São Marcos, relata o encontro de Jesus com o cego Bartimeu (cf. Mc 10,46-52). Também aqui, Jesus só realiza a cura depois de Bartimeu expressar sua vontade: "Mestre, eu quero ver de novo".
Portanto, quando visitar doentes, muito mais do que pensar no que vai fazer e/ou falar para ajudar o outro, pense em estar com ele. Pois a primeira finalidade da visita não é fazer desaparecer as dores e os problemas daquele que sofre, mas enfrentá-los, de maneira criativa, para o próprio crescimento.
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