quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ESCATOLOGIA CRISTÃ




Escatologia é uma parte da teologia que se preocupa com o fim. O nosso fim, bem como o fim do mundo. No caso da escatologia cristã, ela exprime a convicção de que a história inteira está nas mãos de Deus e que só encontrará sua plenitude em Cristo, a personificação da promessa de Deus. È essa promessa que nos induz a pensar. É ela, também, que nos incita a agir. Neste sentido, o critério de toda afirmação sobre o futuro, de toda frase sobre o fim do mundo, de todo discurso sobre a morte, de todo enunciado escatológico deve ser a própria mensagem de Cristo. Uma escatologia inadequada é aquela que esquece o presente, e considera seus enunciados sobre o futuro simplesmente como declarações sobre o tempo que há de vir, induzindo as pessoas a fugirem do presente. Como conseqüência, destrói-se o próprio amanhã, já que ele deveria ser construído a partir do presente.
Não tem sentido considerar as coisas últimas senão partindo da perspectiva do último, ou, melhor ainda, a partir de Jesus, o último, depois do qual não há que esperar nenhum outro (Mt 11,3; 1Cor 15,45). Em Jesus está a salvação e a plenitude dos homens, porque nEle o mundo e a história recebem seu sentido e orientação definitiva. Jesus é o evento escatológico, à luz do qual devem ser considerados todos os conteúdos da esperança cristã. Jesus é o evento escatológico na medida em que é o revelador do Pai e o único mediador que nos leva a Ele. A esperança cristã não tem outro objeto a não ser o próprio Deus, o futuro absoluto e definitivo do homem.
A escatologia cristã, se tem Cristo como centro, é uma mensagem de salvação. Anuncia-nos a realização plena da salvação acontecida em Jesus. Se todo o evento Cristo é salvífico, não pode não sê-lo a sua definitiva manifestação. A escatologia cristâ é, por conseguinte, uma dimensão imprescindível da boa nova, do evangelho. Sabemos que a fé cristã afirma com muita seriedade a possibilidade da condenação do homem, porque somente assim se afirma também sua autêntica liberdade e, portanto, o caráter plenamente humano de sua adesão a Deus. Mas é igualmente claro que isso não constitui o centro da mensagem de Jesus. Há apenas um único caminho da história e do homem, a vitória de Cristo está garantida, embora não possamos ter certeza de que cada um de nós participará dela.
No Evangelho de João, embora não se possa dizer que a dimensão do futuro esteja completamente ausente, dá-se maior ênfase ao presente da salvação. È só a partir do presente da salvação em Cristo que tem sentido a dimensão de futuro. Por outro lado, porém, a plena participação na glória do Senhor pressupõe a participação em sua morte. Todos nós devemos submetermos ao juízo da cruz do Senhor.
O paradoxo da salvação presente e da realização em que ainda esperamos não se resolve com a afirmação de um aspecto em detrimento do outro, mas com a afirmação dos dois aspectos simultaneamente. A questão da continuidade e da ruptura entre a vida presente e a vida futura deve merecer enfoque semelhante.
Por um lado, é certo que a morte de Jesus na cruz nos mostra claramente uma cesura entre sua vida terrena e sua vida gloriosa; por outro, Jesus ressuscitado aparece com as marcas de sua paixão. Se a vida futura não está simplesmente em continuidade com a vida presente, não nos devemos esquecer de que depende dela. È neste mundo transitório que se decide nossa sorte eterna. Por isso, nosso esforço no mundo que passa adquire valor transcendente. Ruptura e continuidade devem ser, portanto, afirmadas ao mesmo tempo.





+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte


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