terça-feira, 15 de novembro de 2011

SOLENIDADE DE CRISTO REI DO UNIVERSO ANO A – 20/11/2011 - (Mt, 25, 31-46)




A celebração, que antes se chamava Solenidade de Cristo Rei passou a ser chamada de Solenidade de Cristo Rei do Universo. A mudança terminológica é conseqüência de outra visão teológica, que ressalta a dimensão universal da restauração e da reparação universal realizada em Cristo.

Sem abandonar a dimensão pedagógica e catequética do reinado de Cristo, foi introduzida também a dimensão teológica que aponta o destino de todas as coisas: a plenitude em Cristo, Senhor, simbolizado como o alfa e o ômega, aquele que era que é, e que será eternamente.

A teologia litúrgica do reino de Deus, com base na Liturgia da Palavra proclama que o reino não é deste mundo, pois tem origem divina, e que a missão terrena de Jesus consistia em vir ao mundo para trazer o reino de Deus.

Celebra também nossa participação no Reino de Deus, sob a condição de aderir à verdade trazida por Jesus. Participação possível graças à Cruz, pela qual Jesus constitui um reino de sacerdotes para seu Deus e Pai.

Dimensão importante é a dimensão escatológica como uma realidade inerente à vida cristã de caminheiros que se dirigem à Casa do Pai para participar da plenitude do reino, junto com Cristo. Por fim, em decorrência disso tudo, os celebrantes são convocados a assumir o compromisso de fazer acontecer o reino entre nós.

A celebração da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, fecha o Ano Litúrgico onde meditamos, sobretudo no mistério de sua vida, sua pregação e o anúncio do reino de Deus. Durante o anúncio do reino, Jesus nos mostra o que este significa para nós como Salvação, Revelação e Reconciliação ante a mentira mortal do pecado que existe no mundo.

Jesus responde ao Pilatos quando pergunta se na verdade Ele é o Rei dos judeus: Meu reino não é deste mundo. Se meu reino fosse deste mundo, meus súditos teriam combatido para que não fosse entregue aos judeus. Mas meu reino não é daqui. Jesus não é o Rei de um mundo de medo, mentira e pecado, Ele é o Rei do reino de Deus que traz e ao que nos conduz.

Esta solenidade celebra Cristo como o Rei bondoso e singelo que como pastor guia a sua Igreja peregrina para o reino celestial e lhe outorga a comunhão com este reino para que possa transformar o mundo no qual peregrina. Assim Jesus Cristo é o Rei e o Pastor do reino de Deus, que nos tirando das trevas, nos guia e cuida em nosso caminho para a comunhão plena com Deus amor.

Junto com a solenidade de Cristo Rei, celebra-se também o Dia do Leigo e da leiga. Vocação especial, muitas vezes esquecida (tendemos a acreditar que vocacionados são somente os sacerdotes e freiras), ser leigo ou leiga no mundo de hoje é um permanente desafio. Desafio de vida e testemunho: como ser do mundo, sem ser do mundo, como nos conclama São Paulo.

Leigos e leigas ocupam importantes ministérios na vida da Igreja e assumem sua vocação particular de constituir família, e aceitar com generosidade a vocação matrimonial que Deus lhes dá. Assumem a vocação de atuar profissionalmente com ética, dedicação e diferencial positivo no sentido de ser uma pessoa diferente no meio de tantas. Assumem vocação missionária, dedicando-se muitas vezes solitariamente ao outro mais necessitado. Enfim, leigos e leigas assumem o grande desafio de serem pedras vivas da Igreja, trabalhadores do reino que Cristo Rei vem implementar.

Cristo proclamou seu reino quando esteve diante de Pilatos como um vencido e aniquilado. Os seus o haviam abandonado. Judas o havia delatado. Pedro o havia renegado. Completamente só. Bradou ao céu impassível seu clamor: Meu Deus, por que me abandonaste. Morreu fracassado. Mas nisso residiu sua vitória. Ele é rei na derrota. A vida de Cristo é norma e modelo para a vida de todo cristão.

A despeito de nossa fraqueza e medo, somos chamados a imitar a sua vida e a morrer a sua morte e, assim, participar da sua vitória. Até mesmo a obra que realizamos juntos se submete a esta lei fundamental do cristianismo. Cada irmão sofredor traz a cruz de Cristo como contribuição para a redenção do mundo. Também você tem sua aflição, sua cruz, suas fraquezas. Não se amargure por isso. Não pretenda entender o que Deus ainda não lhe quer desvelar. Não duvide do seu amor. Acolha com o coração em festa tudo o que Deus lhe faz.

O Evangelho também apresenta a realeza de Cristo em relação com sua Paixão e a contrapõe, ao mesmo tempo, às realezas terrenas. Tudo isto baseado no colóquio entre Jesus e Pilatos. Sempre se ocultara o Senhor às multidões, que em momentos de entusiasmo queriam proclamá-lo rei. Entretanto agora, que está para ser condenado à morte, confessa abertamente sua realeza. A pergunta de Pilatos: Então és rei? Responde: Tu o dizes, eu sou Rei. Antes, porém, declarara: Meu reino não é deste mundo.

A realeza de Cristo não está em função de domínio temporal algum, nem político! E, ao contrário, de domínio espiritual: consiste em anunciar a verdade, em conduzir os homens à suprema Verdade, libertando-os das trevas do erro e do pecado, Para isto vim ao mundo. Diz Jesus: para dar testemunho da verdade. Jesus é a Testemunha fiel da verdade, isto é, do mistério de Deus e de seus desígnios de salvação do mundo. Veio revelá-los aos homens e testemunhá-los com o sacrifício da própria vida. Por isso, só quando está para abraçar a Cruz declara-se Rei. E, da Cruz, atrairá tudo a si.

Todo povo de Deus tem, com o Cristo esta realeza. Esta é o domínio do amor que transforma o mundo. O amor é a primeira fonte da união com Deus. Ele faz de nossos gestos de serviço aos outros, da transformação das estruturas de escravidão em liberdade, um sacerdócio do povo de Deus e de cada um que santifica o universo. Ser cristão é já construir o reino de Cristo no mundo. A modalidade de construir este reino é o serviço fraterno, humilde como Cristo fez na sua morte que o glorificou. Unindo nossa vontade à sua e a vontade do Pai, podemos crer em verdade que Ele é Rei e Senhor.


+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo  Diocese Belo Horizonte

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