quinta-feira, 5 de maio de 2011

Violência Generalizada





É verdade que estamos vivendo um momento muito violento na história da humanidade. Ninguém mais se sente tranqüilo. Seja no que diz respeito à segurança pessoal, local, seja no plano das relações internacionais. Análises mais simplistas até afirmam que vivemos o mais violento de todos os momentos.

Tenho minhas dúvidas, pois não vivi os tempos dos massacres efetuados pelos exércitos romanos, nem fui um dos milhões de africanos sem chances sequer de chegar com vida à América, por apodrecer nos porões dos navios negreiros. Também não fui vítima da loucura nazista num campo de concentração durante a chamada Segunda Guerra. A humanidade já viveu outros momentos de violência quase generalizada.

Mas o que me assusta é que todos os avanços, especialmente na área da comunicação, não estão permitindo aos grupos humanos se comunicarem mais. Pois se não há diálogo, não há comunicação verdadeira. E se não há comunicação, não há como encontrar formas conjuntas para diminuir a violência que nos cerca, seja no âmbito do bairro, da cidade, seja na esfera das nações.

Não se trata de escolher entre a paz e a guerra, trata-se de escolher entre a paz ou a autodestruição. A frase nunca foi tão atual para a humanidade. Trata-se de uma opção a ser feita, e a curto prazo. Precisamos ajudar nossos governantes a fazer esta escolha. E com a clareza de que a responsabilidade não é só deles.

É nossa missão ajudar no nascimento de uma nova antropologia, uma antropologia de paz! Pois desta vez não haverá uma arca de Noé que salvem alguns e que deixe perecer os demais. Temos que nos salvar todos, a comunidade de vida de humanos e não humanos.

Não quero, neste artigo, ficar repetindo análises fatalistas. Quero isto sim, partilhar opções de vida que pessoas e grupos estão fazendo, elas podem se alastrar cada vez mais, contagiar, ajudando a criar a antropologia da paz! Combater a violência ou superar? É muito mais do que uma questão de termos. Trata-se mesmo de uma opção de vida. É preciso superar a lógica.

Se para cada ação violenta tivermos que responder com uma reação também violenta, o círculo vicioso apenas irá se retroalimentar, crescendo cada vez mais. É por isso que, de antemão, está fadado ao fracasso qualquer plano por mais bem elaborado que seja. Violência não se combate, pois combater já em si é um ato violento.

Chavões como guerra contra o terror, guerra contra o seqüestro, combate ao narcotráfico, normalmente, o que mais fazem é camuflar projetos de ocupação militar e de desrespeito ao direito de auto-afirmação de grupos e povos.

Violência não se combate, se supera! E se supera com o que Gandhi chamou de força da não violência. E ainda que tenhamos dificuldade em saber como a tal onda de violência será superada, há muita coisa que está a nosso alcance. Enquanto questionamos e forçamos a mudança no macro, vamos agindo no micro.

Não sei bem ainda que alternativas temos à violência reproduzida, justificada e incentivada pela grande mídia. Se censurar é violência, também é muito violenta a forma como que somos forçados a engolir a violência da TV.

Tenho dificuldade em aceitar como consegue ter audiência um programa que mostre dez ou doze jovens trancados numa casa disputando 500 mil reais. Não seria muito mais lógico um programa que incentivasse a solidariedade?

Paz, paz... Por que tantos dizem estar curando a ferida do meu povo, quando não existe paz? A reclamação é do profeta Jeremias (Jr 6,14), que, com certeza, ajudou a um profeta, Dom Helder Câmara, a proclamar com tanta força: Justiça é o novo nome da paz. Não há como pensar em paz, em vida mais segura, sem a efetiva prática da justiça. Não há como negar que as desigualdades sociais ajudam a acentuar a violência.

Tem gente que até faz uso desta tese para dizer que os pobres são mais violentos (ou, em outras palavras, que a violência é maior entre os pobres). Não aceitamos essa distorção do discurso, mas queremos denunciar que a miséria e a fome estão entre as formas mais graves de violência. Por isso queremos exercitar a partilha, enquanto continuamos a exigir a justiça social.


Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

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