sábado, 26 de maio de 2012

Enviai Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.


Os cristãos não podem permanecer sementes

A solenidade de Pentecostes destaca a essencialidade da presença do Espírito Santo na vida do evangelizador. O Evangelizador não pode ser um simples falador do Evangelho, precisa ser discípulo, alguém que fala e age no Espírito Santo de Deus. Em sentido geral, evangelizador é todo batizado que vive o Evangelho e dele dá testemunho com a vida e, mais estritamente, aquele que se empenha em alguma atividade apostólica ou pastoral.
Assim, na vida de cada cristão e cristã, e na vida da Igreja em geral, existe, como na vida de Cristo, uma Páscoa da ressurreição, da vida nova, e uma Páscoa da aliança, um Pentecostes. Não basta que a vida renasça; é preciso que ela se desenvolva e produza frutos. Os cristãos não podem permanecer sementes. É preciso que a semente germine, nasça, cresça e produza muito fruto. Eis o sentido do dom do Espírito de Pentecostes.
Se a Páscoa leva toda a Igreja a reviver e renovar o dom da vida recebido no Batismo, Pentecostes a leva a renovar o dom do Espírito recebido no sacramento da Crisma. Mas, a cada ano, ela é convidada a renovar as promessas do Batismo na Páscoa e a aliança no Espírito na solenidade de Pentecostes. O que se diz da Páscoa pode-se afirmar do Batismo e o que se diz de Pentecostes pode-se afirmar da Crisma.
Em cada solenidade de Pentecostes, a Igreja reaviva o Espírito que nos foi dado como Dom de Deus. Assim, reanimados e fortalecidos, seremos fecundos na gestação do Reino de Deus, levando à plenitude a vida nova recebida pela fé e pelo Batismo. O Espírito Santo quer ser invocado. Por isso, a Liturgia de Pentecostes exclama: Enviai Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.



+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

Exortação Apostólica Teológica e Eclesial sobre o Espírito Santo proferida por +Dom Eduardo Rocha Quintella, Bispo fundador da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa(ICAO)



Há muito a se fazer na compreensão da ação do Espírito na Igreja

Podemos dizer que sem a ação do Espírito Santo, a compreensão teológica bem como as estratégias missionárias serão insuficientes na dinâmica da propagação do evangelho e na vida da igreja. Dependemos do Espírito para converter o coração do povo, uni-lo, levá-lo a adoração a Cristo e inflamá-lo a pregar o evangelho.
Acreditamos que é o Espírito Santo quem convence o homem do seu pecado. O homem natural sabe que é pecador, porém apenas com a intervenção do Espírito ele passa a se sentir pecador. Portanto em toda a apresentação do evangelho, se o Espírito Santo não convencer o homem do pecado e do juízo, nossa exposição da verdade de Cristo não passará de uma apologia humana. 
A vida humana é chamada a ser uma vida no Espírito, não só porque somente no Espírito podemos experimentar e conhecer Deus como Deus, mas porque, na economia da salvação, realizada pela missão do Filho e do Espírito, o Verbo e o Espírito são inseparáveis.
Pode-se dizer que o que caracteriza a atual Teologia do Espírito Santo, ou Pneumatologia, é, na expressão de Congar, que  entendemos hoje por Pneumatologia não a teologia da terceira Pessoa em si mesma, mas o impacto de uma consideração ativa do Espírito sobre a maneira de ver a Igreja, sua vida e seus membros.
Há muito a se fazer na compreensão da ação do Espírito na Igreja, tendo em vista, em particular, a problemática brasileira dos choques, aparentemente inevitáveis, entre os objetivos das pastorais libertadoras e a concepção de vida pessoal e comunitária que prevalece nos diversos movimentos de tendência carismática.
   O segredo da pneumatologia é a sua vinculação estreita com a realização do desígnio de Deus no Cristo Jesus, salvaguardando sempre a santificação como participação antecipada na vida de Deus, quer na intimidade da oração, quer na transformação da sociedade segundo o Evangelho.



+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese de Belo Horizonte

Solenidade de Pentecostes (João 7, 37-39) – Ano B – Marcos – Dia 27/05/2012

A comunidade santificada pelo Espírito fala uma linguagem compreensível a todos.
Nestes 27 de maio, a Igreja celebra a Solenidade de Pentecostes. Dia em que celebramos o nascimento da igreja com o batismo no Espírito Santo. É a Igreja, como comunidade, que nasce de Jesus, assistida pelo Espírito e chamada a testemunhar aos homens e mulheres o projeto libertador do Pai. Com a morte de Jesus, a Comunidade, nascida da ação criadora e vivificadora do Messias, ainda não havia se encontrado com o Cristo ressuscitado e não tinha consciência das implicações da ressurreição.
Era uma comunidade fechada, insegura, com medo, que necessitava fazer a experiência do Espírito e, só depois, estaria preparada para assumir a sua missão no mundo e dar testemunho do projeto libertador de Jesus. O gesto de Jesus de soprar sobre os discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao homem de argila. Com este sopro, Jesus transmite aos discípulos a vida nova e faz nascer o Homem Novo.
A comunidade santificada pelo Espírito fala uma linguagem compreensível a todos. Os dons recebidos do Espírito são para a edificação da comunidade. Jesus nos garante a presença do Espírito para que a comunidade seja acolhedora e reconciliadora. Agora, os discípulos possuem a vida em plenitude e estão capacitados a fazer da sua vida um dom de amor aos homens e mulheres. Animados pelo Espírito, eles formam a comunidade da nova aliança e são chamados a testemunhar, através da pregação e do testemunho, o amor de Jesus.
A vinda do Espírito Santo sobre os homens e mulheres reunidos no cenáculo alterou o curso da história e transformou-os em testemunhas capazes de interpretar o misterioso fato de que a derrota de Jesus, na verdade, era a mais retumbante das vitórias e a definitiva palavra de interpretação de Deus sobre a história humana. O Espírito derramado no coração da comunidade é sinal e garantia da presença do Ressuscitado na vida e na caminhada do povo de Deus
Essa é uma das mais completas definições de Pentecostes, festa que deve nos conduzir a uma profunda reflexão sobre a misteriosa presença do Espírito Santo em nossas vidas, na vida de nossa família, na Igreja e na própria História. É através do Espírito Santo que nascemos para a vida em Deus e renascemos, continuamente, para o seu Projeto. Com a Igreja, aprendemos a orar e pedir, incessantemente, ao Espírito para que renove a face da Terra.
Como templos do Espírito Santo, somos convidados a viver segundo este mesmo Espírito. Assim, seguindo a Jesus, como cristãos, devemos ter uma vida segundo este Espírito, que é justamente o contrário da vida que o mundo nos oferece. E viver segundo o Espírito é na verdade viver de conformidade com os critérios e perspectivas de Deus, obedientes aos ensinamentos de Jesus Cristo.
Ao celebrarmos a Festa de Pentecostes nos abrimos para receber em abundância os dons do Espírito: sabedoria, entendimento, ciência, conselho, fortaleza, piedade e temor de Deus. Peçamos então ao Espírito que nos plenifique com os seus frutos: caridade, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, lealdade, mansidão e continência.
Mas na festa de Pentecostes somos ainda chamados a nos unirmos a todos os povos que invocam o nome de Deus e a todo o universo numa oração fraternal. É, portanto, tempo de intensificarmos o grande desejo da unidade e assumirmos, efetivamente, a causa da unidade visível das igrejas cristãs e do diálogo entre as religiões e as culturas.

+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese de Belo Horizonte

sábado, 19 de maio de 2012

Ascensão do Senhor – 20/05/2012 (Mc 16, 15-20) – Ano B - Marcos


Deus é nossa origem e nossa meta definitiva.

Celebramos neste domingo a festa da Ascensão do Senhor. Depois de ressuscitar e aparecer às mulheres e aos apóstolos Jesus se despede deles/as antes de voltar ao Pai, subir ao céu. Dessa maneira, esta festa revela a altíssima vocação de toda pessoa humana: viver em Deus, participar de seu Reino eternamente. Deus é nossa origem e nossa meta definitiva.
A Ascensão de Cristo ao céu não é o fim de sua presença entre os homens, mas o começo de uma nova forma de estar no mundo. Sua presença acompanha com sinais a missão evangelizadora de seus discípulos. A Ascensão de Cristo é também o ponto de partida para começar a sermos testemunhas e anunciadores de Cristo exaltado que voltou ao Pai.
O Senhor glorificado continua presente no mundo por meio de sua ação nos que crêem em sua Palavra e deixam que o Espírito atue interiormente neles. O mandato de Jesus é claro e vigente: Ide a todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura. Por isso, a nova presença do Ressuscitado em sua Igreja faz com que seus seguidores constituam a comunidade de vida e de salvação.
É esta certeza que fez e faz a Igreja caminhar no meio de luzes e sombras, buscando viver sua identidade de discípula-missionária, nos diferentes cenários culturais, sociais, religiosos da história.  Assim Jesus se encarnou a fim de nos abrir caminho para o Pai, colocando sua tenda no meio de nós e permanecendo conosco.
Sua comunidade para levar adiante sua missão precisa viver sempre inserida no mundo. Esse é o lugar da Igreja: o mundo, com seus avanços e retrocessos, com suas vitórias humanas e suas devastações de diferentes índoles. Mundo que interpela e desafia a fé da comunidade eclesial.
Celebrar a festa da Ascensão é agradecer a Deus o presente de nossa vocação eterna já alcançada para todos/as por Jesus e renovar nosso compromisso eclesial de ser comunidade convocada e enviada para que todos os povos tenham vida e vida em abundância. 




+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese de Belo Horizonte

sexta-feira, 11 de maio de 2012

VI Domingo da Páscoa (João 15,9-17) – Ano B – Marcos 13/05/2012


AMAI-VOS UNS AOS OUTROS, ASSIM COMO EU VOS AMEI

O VI Domingo da Páscoa, apresenta Jesus como o amigo que nos ama até a doação da própria vida. Ele age assim conosco para que aprendamos a nos amar uns aos outros da mesma forma que Ele nos amou. Procedendo assim poderemos identificar uma Igreja guiada pelo Espírito Santo e que é convidada a ir a todas as culturas e realidades, pois quem ama consegue chegar a Deus, uma vez que Ele é Amor verdadeiro.
O texto de hoje pertence aos acontecimentos que marcam a despedida de Jesus na ultima Ceia. E é sob a ótica de um testamento que se entende melhor o texto. Domingo passado a ênfase era sobre permanecer em Jesus, como os ramos na videira. Hoje, a ênfase recai sobre o resultado do permanecer, que é o amor.
A fonte do amor é o amor entre o Pai e o Filho, que é o amor apropriado ao Espírito Santo. Permanecer no amor de Jesus é inserir-se nesta comunhão de amor e vida entre o Pai e o Filho. Partindo de uma adesão pessoal, o permanecer no amor de Jesus significa inserir-se na comunidade de discípulos e irradiar-se, envolvendo a outros, ampliando a comunidade de amor e prolongando-a no tempo.
Conservar-se no amor, portanto, não é uma situação passiva, mas dinamismo que gera comunidade fraterna. De fato, Jesus se dirige não a pessoas individualmente, mas à comunidade cristã como um todo. Por isso, permanecer nele e no Pai não significa isolar-se no verticalismo, mas expandir-se, criando laços entre as pessoas. O amor a Jesus e ao Pai leva a gerar comunidade de irmãos.
Jesus cumpriu os mandamentos do Pai. Eles sintetizam o projeto de Deus e a atividade do Filho em favor da vida e liberdade. Portanto, obedecer aos mandamentos de Jesus é atuar no seu projeto, e atuar seu projeto. Aqui se enfatiza a dinâmica do amor: se obedecerem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor. Por isso podemos afirmar que não permanece no amor de Jesus quem não luta para que todos tenham vida em abundância.
O individualismo não é coisa da religião, isto é, do Cristianismo, mas do nosso tempo, da nossa cultura individualista e egocêntrica. Então as pastorais da Igreja, e muitos autores não estão imunes do individualismo pregado pela nossa cultura moderna. Mas é preciso ter consciência da dimensão social do Cristianismo e lutar contra essa cultura egocêntrica que penetrou nos cristãos.
Deus é amor. Esta é a realidade de Deus, revelada por Jesus aos discípulos e às multidões, em sua vida e em seus atos. Se Deus é todo-poderoso na criação do universo, ele é todo amor em sua relação com seus filhos, homens e mulheres, em todos os tempos e em todos os povos.



+Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese de Belo Horizonte

domingo, 6 de maio de 2012

V Domingo da Páscoa Ano B. Dia 06/05/2012. (Jo 15,1- 8)


 Eu sou o caminho, a verdade e a vida

 Neste quinto Domingo do Tempo Pascal, o Cristo ressuscitado apresenta-se como o caminho a ser seguido para chegar ao Pai. A Liturgia nos conduziu até este Domingo para dizer algo muito importante: a vida concreta do cristão realiza-se se for vivida em Cristo, com Cristo e por Cristo. 

Este Domingo questiona a vida pessoal e comunitária na sua realidade e no seu modo de existir, sem esquecer que somos caminhantes e que nossa peregrinação tem um significado. A experiência que o discípulo tem da ressurreição lhe dá uma certeza: Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Para o discípulo, não existe nenhum outro percurso existencial que possa ser feito fora dele. A força do seguimento o coloca dentro da vida do Ressuscitado. 

Apesar disso, dentro da comunidade cristã aparentemente nem tudo é dom, nem tudo é bondade. Ao contrário daquela imagem idealizada pelo autor dos Atos no capítulo segundo, onde todos eram unânimes na partilha dos bens e nas orações, a passagem apresentada no sexto capítulo nos mostra uma comunidade onde há murmurações e divisões. 

Diante das fraquezas humanas, do medo da solidão e do abandono, Deus se revela como um Deus condescendente, um Deus que quer a salvação de todos os homens e oferece paz ao nosso coração irrequieto, muitas vezes tomado pelas preocupações humanas. 

 Deus conhece nossas limitações e se nos faz próximo, nos oferece um ambiente familiar, um lar onde possamos encontrá-lo e fazer comunhão com ele. Mas muitas vezes nos encontramos tão céticos que não conseguimos enxergar. 

Os tempos difíceis que vivemos, e cuja dureza e crueza se vão fazer sentir ainda mais, exigem da comunidade cristã uma resposta de proximidade, mais atenta e mais adequada.Tenhamos fé. Tenhamos confiança. 

 É que na base da construção da Igreja, enquanto comunidade orante, não está a nossa ciência, nem a nossa eficiência. Está Cristo, como Pedra Angular. Aqui há sempre um lugar preparado para nós. 



 +Dom Eduardo Rocha Quintella 
Bispo Diocese de Belo Horizonte

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