sexta-feira, 12 de abril de 2013







A Experiência dos Discípulos de Emaús

06/04/2013
Ao longo de nossa vida vamos cultivando amizade pessoal com Cristo.
Encontramo-lo na palavra do Evangelho, no pão da Eucaristia, no rosto do irmão que sofre, na contemplação orante.
Ruminando as palavras do Evangelho, deixando que o corpo vivo e ressuscitado de Jesus fortaleça nossa vida nova, acolhemos a clara bondade que chega até nosso ser mais intimo.
Percorrendo o caminho que conduzia à aldeia de Emaús, dois dos discípulos partilhavam a decepção pela morte de Jesus. As esperanças foram frustradas.
Enquanto o faziam, Jesus cruzou-se no caminho, interveio no diálogo e, ainda antes de o reconhecerem, interpelou-os: Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em tudo quanto os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória? (Jo 24, 25-26).
Depois, abriu-os para o significado  do que acontecera, a partir das Escrituras.
A Palavra de Deus transformou aquele encontro em acontecimento, desvendou o que a fragilidade humana não conseguia entender. No seu caminhar, os discípulos de Emaús encontraram, então, um novo sentido. 
A vida cristã é uma peregrinação constante.  É preciso acertar com o caminho verdadeiro que nos conduz à meta, a plenitude de vida em Cristo.
No nosso longo e duro caminhar de peregrino, se confiarmos unicamente nas nossas forças, poderemos perder o rumo e as nobres aspirações que nos animam, sujeitando-nos a condições de mera sobrevivência a troco de qualquer tipo de recompensa ou remuneração.  
A Palavra de Deus é a luz indispensável que dá resposta às questões fundamentais da existência: quem somos, de onde vimos, para onde caminhamos? É uma palavra viva, reveladora da verdade, que interpela, orienta e molda a existência, tornando-a digna de filhos de Deus.
Numa sociedade como a nossa, marcada pelo pragmatismo materialista, que coloca os interesses económicos acima da satisfação das necessidades fundamentais dos seus membros.
A Palavra de Deus denuncia essa dignidade humana ameaçada e obriga ao empenhamento pessoal e social para a repor, uma vez que os empobrecidos hão-de ser sempre tratados com o respeito devido à dignidade de cada pessoa humana.
O diálogo dos dois discípulos com o ressuscitado teria chegado ao fim se estes não o tivessem convidado para ficar com eles.  Sentou-se à mesa, benzeu o pão, partiu-o e entregou-o aos discípulos. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no.
Santo Agostinho (Sermão 235) comenta, a este propósito: Eles caminhavam mortos com um vivo, caminhavam mortos com a vida.
Com eles caminhava a vida. Mas no seu coração nenhuma vida tinha renascido.
E tu, desejas a vida? Imita os discípulos e reencontrarás o Senhor. Eles ofereceram-lhe  hospitalidade. O Senhor parecia resolvido a prosseguir o seu caminho, mas eles retiveram-no. Retém o empobrecido se queres reencontrar o teu Senhor. O Senhor manifestou-se no partir do pão.
Se a Palavra abre horizontes e indica o rumo do nosso peregrinar, a Eucaristia é o alimento do nosso caminhar.
Fonte e cume da vida cristã, na Eucaristia verificamos como o Senhor não falha ao que promete: Eu estarei convosco até ao fim do mundo (Mt 28, 20).
Ele vem ao nosso encontro. Então, a nossa vida ganha um novo sentido, porque fazemos a experiência de que não caminhamos sozinhos: Ele é o guia que nos conduz por caminhos exigentes, o alento para ultrapassarmos dificuldades, a plenitude do amor, dom prometido para os que o seguem até ao fim.
É na Eucaristia, particularmente celebrada ao Domingo, que os cristãos quebram o isolamento, exprimem e alimentam a comunhão na fé, integradora das diferenças de língua, cultura, tradição e condição social.
Mas, a experiência da ressurreição, os discípulos de Emaús não a guardaram só para si. Imediatamente se dirigiram para Jerusalém, ao encontro dos Onze, para lhes comunicarem: Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!.
E, nisso, foram acompanhados por muitos outros que, por causa desse testemunho enfrentaram críticas e perseguições, numa fidelidade que, em muitas circunstâncias, os conduziu até ao martírio. 
Celebrar a Páscoa implica projetar à nossa volta a luz da ressurreição, fermento da nova criação, empenhando-nos no acolhimento e solidariedade para com os empobrecidos, na procura das soluções mais justas para os seus problemas pessoais e familiares, na busca dos meios que, de forma justa e equilibrada, salvaguardem  os direitos e deveres de quem acolhe e de quem é acolhido. 
Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

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