quarta-feira, 8 de junho de 2011

Igreja, eucaristia e missão



Os discípulos e missionários de Cristo devem iluminar com a luz do Evangelho todos os âmbitos da vida social. Se muitas das estruturas atuais geram pobreza, em parte é devida à falta de fidelidade a compromissos evangélicos de muitos cristãos com especiais responsabilidades políticas, econômicas e culturais.

Nossa fé proclama que Jesus Cristo é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem. Por isso, a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza. Essa opção nasce da nossa fé em Jesus Cristo, o Deus feito homem, que fez nosso irmão (Hb 2, 11-12). Opção, no entanto, não exclusiva, nem excludente.

Os rostos sofredores dos pobres são rostos sofredores de Cristo. Eles desafiam o núcleo do trabalho da Igreja, da pastoral e de nossas atitudes cristãs. Tudo o que tenha relação com Cristo tem relação com os pobres, e tudo que está relacionado com os pobres clama por Jesus.

Conhecendo a Cristo conhecemos o Pai. Esta é a nossa missão hoje: reconhecer Jesus em cada irmão para caminharmos para o Pai. A fé em si mesma não é uma abdicação da razão, não é uma renúncia a pensar, a raciocinar. A teologia ocupa-se de Deus, de Jesus Cristo e das verdades reveladas, é inteligência da fé, e a fé em Deus é inteligência.

Hoje todos se interrogam sobre Cristo, ou para maldizê-lo ou para invocá-lo, ou para persegui-lo ou para amá-lo, e atuar seu amor em seu nome e por ele. Mas nenhum destes, inclusive nenhum dos discípulos, ainda vendo Jesus em sua história, viu-o realmente em sua essência. Começaram a ver Jesus e a compreender seu rosto só a partir da Páscoa.

Já antes da Páscoa, Jesus, à pergunta do discípulo Felipe, que lhe pede mostra-nos o Pai e nos basta, Jesus responde: Felipe, tanto tempo faz que estou convosco e ainda não me conheces? Jesus se deixa conhecer realmente e plenamente pelo que é, à luz do Ressuscitado, Eu estava morto, mas agora estou vivo pelos séculos dos séculos.

Os discípulos reconhecem Jesus pela tarde, na casa de Emaús. Reconheceram Jesus que toma o pão, abençoa-o, parte-o e o entrega; nesse momento, abriram os olhos, tiveram a intuição, o entendimento de que aquele desconhecido era o Senhor.

Mas naquele mesmo momento Jesus desaparece: eis aqui o que significa ver Jesus, intuí-lo, compreendê-lo, com todo o ser, com a inteligência, a razão e o transporte de amor, mas no momento que o vejo e compreendo, não o posso abraçar, porque Jesus é infinitamente maior do que podemos imaginar.

Deus se fez presente na história do homem através de Jesus de Nazaré. O Deus, o absoluto, manifestou-se e revelou em Jesus Cristo. Pode-se dizer que é possível ver o rosto de Cristo na Eucaristia. É a Eucaristia a continuidade da revelação.

A Eucaristia e o batismo são dois filões que sustentam toda a comunidade de crentes. A comunidade de uma família, de uma aldeia, de uma diocese, de uma nação está fundada nestes dois pilares.
A Igreja está construída em dois sacramentos que são o batismo e a Eucaristia, simbolizados pela efusão da água e do sangue que se produziu no momento em que o lado de Cristo foi traspassado pela lança.

Simbolicamente e misticamente, já o evangelista João viu o nascimento da Igreja neste eflúvio de sangue e água, símbolos do batismo e da Eucaristia.

A Eucaristia é por excelência o mistério da fé, porque nela se encerram todos os sacramentos e tudo o que significa ser cristão. A Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia.

 Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte

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